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Familiares de Lucas Terra fazem apelo contra a impunidade

Em abril deste ano, a Juíza de Direito Andréia Sarmento, do 2º Juízo da Segunda Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Salvador, Bahia, classificou o assassinato de Lucas Terra como um crime triplamente qualificado, levando em consideração a presença de um motivo vil, o uso de métodos cruéis e a completa indefensabilidade da vítima.

Os acusados, os pastores Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva, foram condenados a cumprir 21 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato brutal do adolescente Lucas Terra, que foi violentado e cruelmente queimado vivo e teve seu corpo abandonado em um terreno baldio em Salvador no ano de 2001. A pena de Fernando Aparecido da Silva foi agravada de 18 para 21 anos de reclusão, enquanto a pena de Joel Miranda, inicialmente estabelecida em 18 anos, também foi agravada para 21 anos.

Pastores condenados permanecem em liberdade

Contudo, a sentença gerou uma controvérsia e indignação ainda maiores, uma vez que os pastores condenados permanecem em liberdade, recebendo apoio da Igreja Universal do Reino de Deus e da emissora de televisão Record, enquanto utilizam recursos legais na tentativa de evitar o cumprimento de suas penas.

A mãe de Lucas, Marion Terra incansável na busca por justiça para seu filho, nesta semana recorreu às redes sociais para lançar um apelo emocionado com o objetivo de evitar que o caso seja esquecido e para que os recursos apresentados pelos condenados sejam rejeitados na próxima semana, possibilitando assim sua prisão imediata.

Os familiares apresentam os seguintes argumentos para a recusa dos recursos dos pastores condenados:

  1. Tentativa de Obstrução da Justiça – Prática Recorrente por Mais de 20 Anos: A defesa dos pastores não conseguiu, ao longo de duas décadas, apresentar argumentos suficientes para absolvê-los, optando, em vez disso, por repetidamente tentar obstruir o andamento da justiça.
  2. Elaboração de uma Farsa para Confundir a Opinião Pública e o Sistema Judiciário: Marion Terra e seus apoiadores alegam que a defesa dos pastores teria tentado criar uma narrativa falsa com o objetivo de confundir tanto a opinião pública quanto o sistema judiciário.
  3. Abundância de Provas no Processo – Testemunhas os Incriminam – Impossibilidade de Atuação Solitária do Terceiro Suspeito, Galiza: A defesa argumenta que existem evidências sólidas contra os pastores, incluindo depoimentos de testemunhas que os incriminam diretamente, o que torna altamente improvável que o terceiro suspeito, conhecido como Galiza, pudesse ter cometido o crime sozinho.
  4. Mudança na Postura dos Pastores em Relação ao Terceiro Suspeito – Indícios de Coação Financeira: A família Terra enfatiza que os pastores inicialmente foram testemunhas de defesa do terceiro suspeito, Galiza, mas agora discordam, sugerindo que possa ter havido pressão financeira para que Galiza assumisse sozinho a responsabilidade pelo crime.
  5. Financiamento da Defesa por Patrocinadores – Uso do Poder Econômico para Evitar Punição: A família Terra alega que a Igreja Universal desempenhou um papel ativo na defesa dos pastores, financiando advogados caros para eles, o que suscita preocupações sobre a influência do poder econômico no desfecho do caso.
  6. Recusa em Participar de Acareação Após a Delação de Galiza: A recusa dos pastores em participar de uma acareação após a delação de Galiza levanta suspeitas sobre sua inocência, conforme a argumentação da família Terra e seus apoiadores.
  7. Consistência nas Conclusões das Autoridades – Todos os Órgãos Concordam que Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva São os Autores do Assassinato de Lucas Vargas Terra: Marion Terra destaca que tanto a investigação policial, o Ministério Público da Bahia, a Vara Criminal, o TJBA, o STJ, o STF quanto o Tribunal do Júri chegaram à mesma conclusão: Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva são os responsáveis pelo homicídio de Lucas Terra.
  8. Permanência em Liberdade e Influência na Condenação – Tentativas de Manipular a Justiça: A família Terra alega que os pastores, ainda em liberdade, estão exercendo influência para interferir no resultado da condenação, o que representa um perigo à justiça e à busca pela verdade.

A impunidade que persiste há mais de duas décadas é um fardo insustentável para a família de Lucas Terra e uma mancha na credibilidade do sistema judicial brasileiro. O caso permanece como um lembrete sombrio da necessidade contínua de lutar por justiça e responsabilização, independentemente das dificuldades e do tempo que isso possa levar.

Os acusados:

  • Joel Miranda: na época do crime, Joel era pastor da Igreja Universal no Rio Vermelho – onde o estupro teria acontecido. Após o crime, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde até 2022 comandava uma igreja.
  • Fernando Aparecido da Silva: em 2001, Fernando trabalhava no Templo da Pituba. Após o crime, ele passou a comandar uma igreja em Minas Gerais.

Crime

  • O crime aconteceu no dia 21 de março de 2001, dentro de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Rio Vermelho.
  • Na época, o pai da vítima contou que o adolescente teria sido estuprado e morto após ter flagrado os pastores Joel e Fernando tendo relações sexuais.
  • Após presenciar a cena, o adolescente teria sido estuprado, colocado dentro de uma caixa de madeira e queimado vivo em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama, em Salvador.

| Editoria Virtuo Comunicação

Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa