Campanhas

Maria Careli figura emblemática na busca incessante por seu filho desaparecido faleceu aos 95 anos

Maria de Almeida Careli, conhecida afetuosamente como Dona Maria, uma figura emblemática na busca incessante por seu filho desaparecido, Jorge Careli, funcionário da Fiocruz que desapareceu em 1993, faleceu aos 95 anos. Seu filho, Jorge, foi brutalmente assassinado há 30 anos por policiais da Divisão Antissequestro (DAS) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, e seu corpo jamais foi encontrado.

Dona Maria deixou um legado de persistência na busca pela verdade sobre o destino de seu filho. Seu falecimento ocorreu na quarta-feira, 31 de maio, deixando para trás filhos, netos e bisnetos. O velório foi realizado em uma sexta-feira, 2 de junho, a partir das 8 horas, na capela 6 (RioPax), no Cemitério de Inhaúma, seguido pelo sepultamento às 11h30.

Em uma entrevista comovente à Fiocruz em 2006, Dona Maria recordou que costumava observar o filho saindo do prédio da Fiocruz, onde trabalhava como zelador na ENSP. Ela identificava sua partida ao apagar das luzes, já que ele era o último a sair do local. Apesar dos problemas de saúde e da dor avassaladora pela perda de seu filho, Maria Careli manteve uma força inabalável, uma vontade inabalável de viver e um compromisso contínuo com sua família, buscando incansavelmente respostas sobre o que aconteceu com seu filho, vítima da brutalidade policial.

Desde o desaparecimento de Jorge Careli, em 1993, os colegas de trabalho na Fiocruz uniram-se em busca de respostas, pressionando as autoridades pela responsabilidade no caso. O Sindicato dos Servidores da Fiocruz (Asfoc-SN) iniciou a campanha ‘Onde está Careli?’, destacando o caso e lutando por justiça. Em 2012, a Justiça declarou a morte presumida de Jorge Careli, concedendo à mãe, Maria de Almeida Careli, um documento equivalente à certidão de óbito.

O caso de Jorge Careli motivou a criação da Medalha Careli pelo Sindicato, em 2001, uma premiação destinada a indivíduos ou entidades engajadas na defesa dos direitos humanos.

O legado de Jorge Careli foi homenageado pela ENSP com a criação do Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) em 1988. Este centro, renomeado como Departamento sobre Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli em 2015, tem como objetivo investigar o impacto da violência na saúde da população brasileira e latino-americana.

Representando o Claves, Kathie Njaine, chefe do departamento e pesquisadora da ENSP, expressou solidariedade à família, ressaltando o papel fundamental dos pais de Jorge Careli na luta contra a violência nas comunidades carentes do Rio de Janeiro, e sua busca por justiça e reconhecimento da dor das vítimas indiretas.

O caso Careli ganhou destaque na mídia e nas ações da Fiocruz, após a polícia admitir a possibilidade de envolvimento da equipe da DAS no desaparecimento de Jorge. No entanto, após um longo processo judicial, a sentença de absolvição injusta gerou indignação: embora evidências indicassem o espancamento e possível assassinato de Careli por um dos réus, a acusação não conseguiu comprovar a participação específica de nenhum dos 23 acusados.

Apesar das tentativas de justiça e investigação, o desaparecimento de Jorge Careli continua um mistério, com seu corpo jamais encontrado. Em 1999, o governo do Estado do Rio de Janeiro reconheceu sua responsabilidade e concedeu indenizações por danos morais e materiais aos pais de Careli.

Para mais informações sobre a família de Careli e o desdobramento do caso, continua-se a buscar respostas e justiça, mantendo viva a memória de Jorge Careli e o legado de luta de sua mãe, Maria Careli.

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa