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Memória: Morte de Martinho Lutero

Martinho Lutero, um monge católico do século XVI, deixou uma marca indelével na história ao iniciar um movimento de contestação à doutrina da Igreja Católica. Lutero, insatisfeito com certas práticas da Igreja de sua época, buscou implementar uma reforma interna no catolicismo, desafiando algumas ações por meio de suas 95 teses.

A iniciativa de Lutero deu origem a um movimento significativo, posteriormente conhecido como Reforma Protestante. Este movimento resultou em um cisma dentro da cristandade na Europa, levando ao surgimento do protestantismo. O protestantismo, uma ramificação do cristianismo, apresenta interpretações que diferem das praticadas pela Igreja Católica.

Martinho Lutero, nascido em 10 de novembro de 1483 na cidade de Eisleben, parte do Sacro Império Romano-Germânico, é uma figura histórica inesquecível. Filho de Hans e Margarethe Luther, Lutero cresceu em uma família de pequena burguesia que prosperou com o trabalho em minas de cobre.

Lutero passou sua infância em Mansfeld, onde seu pai trabalhava. Apesar de uma criação rigorosa, seus pais se esforçaram para garantir que ele recebesse uma boa educação. Antes de ingressar na universidade, Lutero estudou em Mansfeld, Magdeburg e Eisenach.

Aos 17 anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt para estudar direito, uma carreira próspera na época, e atender ao desejo de seu pai de vê-lo se tornar advogado. No entanto, em 1505, Lutero abandonou o direito e entrou para a vida eclesiástica.

A decisão de Lutero de seguir a carreira religiosa foi motivada por um incidente em 1505. Durante uma viagem de Mansfeld para Erfurt, ele foi pego por uma tempestade e um raio atingiu um carvalho que o abrigava. Temendo pela vida, Lutero prometeu a Santa Ana que se tornaria monge se sobrevivesse. Depois de escapar ileso, ele cumpriu sua promessa e entrou para o convento dos Eremitas Agostinianos de Erfurt, para desgosto de seu pai.

Em abril de 1507, Lutero foi ordenado sacerdote e, no ano seguinte, ingressou na Universidade de Wittenberg para estudar teologia. Ele obteve um bacharelado em estudos bíblicos e logo começou a lecionar teologia. Em 1512, Lutero obteve o título de doutor em Teologia e continuou lecionando em Wittenberg.

Lutero celebrou sua primeira missa em 2 de maio de 1507. Em 1508, ele visitou Roma, a sede da Santa Sé, por questões relacionadas à ordem dos agostinianos. Historiadores relatam que essa viagem deixou uma má impressão em Lutero devido à falta de espiritualidade e à corrupção entre os religiosos.

Entre 1513 e 1518, Lutero ministrou vários cursos na Universidade de Wittenberg, todos sobre ensinamentos bíblicos. Durante esse período, ele estudou a Bíblia em grego e latim. Foi a leitura da Bíblia que levou Lutero, sem saber, a iniciar um grande movimento de reforma na Igreja.

Reforma Protestante de Martinho Lutero

Martinho Lutero, o catalisador da Reforma Protestante, não foi o único a questionar a situação da Igreja Católica. Antes dele, figuras como John Wycliffe e Jan Hus já criticavam o acúmulo de poder da Igreja, a venda de indulgências e a corrupção entre os clérigos.

A Reforma Protestante não foi apenas o resultado da insatisfação religiosa de Lutero. O movimento ganhou força graças ao apoio popular e ao endosso de nobres influentes do Sacro Império no século XVI. Esses nobres viam na ação de Lutero uma oportunidade de enfraquecer o Papa e reduzir a influência da Igreja no poder secular. Além disso, a reforma foi vista como uma maneira de se livrar dos impostos eclesiásticos. Por isso, muitos camponeses viram na Reforma uma maneira de combater a opressão e a pobreza em que viviam. Uma série de revoltas camponesas ocorreram durante a Reforma Protestante, mas Lutero não as apoiava devido à violência nelas manifestada.

Lutero, por sua vez, estava insatisfeito com muitas coisas que via na Igreja. A partir de 1514, ele começou a pregar e logo ganhou reputação como um bom pregador. O contato direto com os fiéis e a Igreja o levou a questionar uma prática muito comum na época: as indulgências, a prática de pagar pelo perdão dos pecados e pela salvação.

Lutero tinha muitas críticas à maneira como os membros da Igreja se comportavam, e a questão das indulgências era apenas uma delas. Na Alemanha do início do século XVI, as indulgências faziam parte de um projeto da Santa Sé para construir a Catedral de São Pedro e foram cobradas intensamente. As críticas de Lutero às indulgências ficaram marcadas nas 95 teses, com destaque para a tese 76: “Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa”.

A leitura da Bíblia levou Lutero a novas interpretações da fé cristã e o levou a concluir que a salvação de cada pessoa era obtida pela fé, pois, de acordo com o texto bíblico, “o justo viverá pela fé”. Essa posição tornava a questão das indulgências ainda mais absurda aos olhos de Lutero, daí sua revolta contra essa prática.

Por isso, Lutero redigiu um documento com uma série de comentários sobre as práticas da Igreja. Esse documento, conhecido como “95 teses”, deu início à Reforma Protestante. A ideia de Lutero nesse momento não era se separar da Igreja, mas reformá-la. A tradição protestante diz que Lutero pregou as 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, mas os historiadores nunca provaram isso e acredita-se que as 95 teses teriam sido enviadas como carta para o arcebispo de Mainz, Alberto de Brendemburgo.

De qualquer forma, o documento de Lutero acabou sendo espalhado pela Europa graças à invenção da imprensa. Por meio dela, as 95 teses de Lutero foram replicadas e espalhadas por toda a Europa, fortalecendo o movimento de contestação à Igreja Católica. A pregação das teses na porta da igreja de Wittenberg ocorreu em 31 de outubro de 1517.

Essa ação desencadeou uma intensa disputa religiosa dentro da Igreja Católica e resultou na excomunhão de Lutero, em janeiro de 1521, após anos de debates entre as autoridades da Igreja e Lutero. Durante esse período, Lutero continuou com seu trabalho e seus estudos teológicos. Ele formulou o princípio das Cinco Solas, que são:

  • Sola fide (somente a fé);
  • Sola scriptura (somente a Escritura);
  • Solus Christus (somente Cristo);
  • Sola gratia (somente a graça);
  • Soli Deo gloria (glória somente a Deus).

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa