Memória: Joaquim Xavier da Silveira poeta e abolicionista brasileiro
Nascido como o filho do capitão das milícias, Francisco Xavier da Silveira, o jovem Joaquim desempenhou uma variedade de papéis profissionais ao longo de sua vida. Ele trabalhou no setor comercial, atuando como auxiliar de escritório e guarda-livros, e eventualmente ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, que se formou em 1865. Para além de suas ocupações, ele também se destacou como jornalista, jurista e orador público, sendo reconhecido por sua eloquência e pelo comprometimento em defesa da causa da abolição da escravidão no Brasil. Sua vida foi interrompida precocemente pela varíola que assolava a região, falecendo aos 34 anos de idade.
Apesar de não ter publicado nenhum livro em vida, Joaquim produziu várias obras como poeta. Seu trabalho mais renomado, intitulado “Poesias”, só viu a luz do dia em 1902, graças aos esforços de seu filho, Joaquim Xavier da Silveira Júnior. Este último, advogado e seguidor das ideias do pai, foi responsável por editar e publicar a obra póstuma. Além dessa coletânea, Joaquim da Silveira também é autor de outras criações literárias notáveis, incluindo “Porque Amo a Noite”, “Só” e “História de Um Escravo”.
O legado de Xavier da Silveira perdura por meio de várias homenagens urbanas. O nome dele é preservado em várias ruas, incluindo a Avenida Xavier da Silveira no centro de Santos, SP. Uma herma, com seu busto, foi erguida em uma praça próxima às avenidas Ana Costa e Francisco Glicério em Santos, onde ele permanece como testemunha perpétua do crescimento da cidade que amava. Além disso, a Rua Xavier da Silveira em Copacabana, no Rio de Janeiro, é uma homenagem a seu filho, Joaquim Xavier da Silveira Júnior, que também foi prefeito da cidade. O nome de Xavier da Silveira também é lembrado na Avenida Xavier da Silveira na cidade de Natal.
PORQUE AMO A NOITE
Sabes que é amor sem ter em troca
Um olhar de mulher banhado em fogo?
É no leito — a vigilia, e n´alma o inferno
É blasphemia do peito em desafogo?
Vivo entre prantos, delirante sempre
Sem ter uma alma que me vote amor!
P´ra não zombarem do infeliz que soffre
Espero a noite — que me escuta a dor.
Meu deus, que vida! Quando os risos d´alma
Deviam todos afagar-me o rosto
Cercam-me as sombras e minh´alma é triste
Como o horisonte quando o sol é posto.
Este era o tempo — que da primavera
P´ra mim deviam rebentar as flôres,
E, no entanto sinto o sol do estio
Crestar-me as crenças, abrazar-me em dores!
E como eu sofro, porque choro embalde,
Pobre, sozinho, sem consolo achar,
Lamento o dia e esperando a noite
Maldigo a sorte que me faz chorar!
E quando durmo — na minha alma passa
Formosa Vesper — (que gentil visão!)
Creio um momento na ventura em sonhos
Desperto ai louco!! topo a solidão!
Oh que martyrio! que destino o meu
Que até sonhando desgraçado sou!
Que triste fado! nunca a luz das crenças
Dentro em minh´alma um raio seu coou!
SÓ
Sonhei-te ha muito! eras visão aerea
Forma impalpável, mas que a alma via,
Na luz da lua, no cantar das aves,
Na aurora em flôr quando a manhã sorria!
Longas, bem longas minhas horas todas
Perdi nas luctas de um scismar eterno!
Na voz enferma de minh´alma em febre
Liam-se estragos d´um gelado hinverno!
Caladas horas se escoavam tristes
No tempo inglório que a soffrer passei;
E tu fugiste vaporosa sombra
E eu, insano, adormeci… sonhei!
Creança ainda, tacteando em trevas,
Ouvi um poeta modular meu nome;
Um marco ergueu-se na minh´alma crente
Que a mão do tempo nunca mais consome!
Cresci — conmigo o isolamento gélido.
Feri as cordas: era muda a lyra!
De meu passado se levantam vagas
A que minh´alma com fervor se atira!
É que o passado se desfez nos prantos,
E a luz da aurora nunca mais eu vi!
Não há mais dia, para mim o tempo
É noite eterna e eu adormeci!