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Movimento Mães de Acari é homenageado com Conjunto de Medalhas Pedro Ernesto

Na última quarta-feira (13), a Câmara Municipal do Rio de Janeiro foi palco de uma solenidade marcante: a entrega do Conjunto de Medalhas Pedro Ernesto ao Movimento Mães de Acari, em reconhecimento ao trabalho incansável dessas mulheres na luta pelos direitos humanos e pela paz em suas comunidades. A entrega do Conjunto de Medalhas Pedro Ernesto é uma honraria concedida pela Câmara do Rio como reconhecimento a personalidades e instituições que se destacam em suas áreas de atuação, contribuindo para o desenvolvimento social, cultural, político e econômico da cidade.

O Movimento Mães de Acari é uma organização composta por mães e familiares de vítimas da violência urbana, que ganhou notoriedade após a Chacina de Acari. Fundado em 1990, o grupo tem sido uma voz ativa na busca por justiça, segurança e dignidade para suas comunidades, especialmente em um contexto de violência que impacta tantas vidas no Rio de Janeiro. Há 34 anos, denuncia a violência do Estado contra jovens, negros e moradores de favelas, inspirando a luta de inúmeras mães que enfrentam as consequências das políticas de segurança pública na região.

A solenidade, realizada no plenário da Câmara Municipal, contou com a presença de autoridades, e foi convocada pela vereadora Mônica Cunha, co-fundadora do Movimento Moleque, presidenta da Comissão de Combate ao Racismo e também uma mãe que perdeu o seu filho para a violência do estado. Além dela, estava presente a deputada estadual Dani Monteiro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ; e o deputado estadual Professor Josemar, Presidente da Comissão de Combate às Discriminações da ALERJ. Também estiveram presentes, representantes da sociedade civil e apoiadores do Movimento Mães de Acari. Dentre os presentes, a OSC ComCausa, organização não governamental dedicada à promoção dos direitos humanos e ao combate à violência, representada por Adriano Dias.

Outras homenageadas

Além das Mães de Acari, outros 160 familiares de vítimas de violência do Estado foram homenageadas com uma moção de louvor e reconhecimento por sua luta por justiça. Entre esses familiares, estarão presentes: Vanessa, mãe da jovem Ágatha; Priscilla Menezes Gomes de Souza, mãe de Thiago Flausino; Bruna Silva, mãe de Marcos Vinicius Silva; e representantes dos movimentos Mães de Manguinhos, Mães sem Fronteiras, Mães de Niterói, Mães da Baixada, entre, infelizmente, tantos outros.

No discurso de agradecimento, a representante do Movimento Mães de Acari enfatizaram a importância do reconhecimento público desse trabalho e reiteraram o compromisso de continuar lutando por memória, justiça e paz. Elas também destacaram a necessidade de políticas públicas mais efetivas para enfrentar a violência e garantir os direitos de todas as pessoas, especialmente das comunidades mais vulneráveis.

A presença da ComCausa no evento ressalta a importância da união entre organizações da sociedade civil na luta por um mundo mais justo e igualitário. A parceria entre entidades fortalece as ações em prol dos direitos humanos e da construção de uma cultura de paz. Segundo o jornalista e fundador da instituição, Adriano Dias: “A entrega do Conjunto de Medalhas Pedro Ernesto ao Movimento Mães de Acari é um marco na história dessas mulheres guerreiras, que mesmo diante de todas as dificuldades continuam firmes na sua missão de transformar a realidade de nosso estado”.

A tragédia de Acari
Em 26 de julho de 1990, uma tragédia mudou para sempre a vida de dez mães na comunidade de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Jovens e adolescentes foram se divertir em um sítio em Suruí, município de Magé, na Baixada Fluminense, mas foram levados por um grupo de extermínio composto por policiais e nunca mais foram encontrados.

Diante do silêncio das autoridades e da falta de respostas sobre os assassinatos das 11 vítimas, as Mães de Acari se organizaram para denunciar a omissão do Estado e buscar respostas por conta própria.

Durante essa busca, Edméa da Silva Euzébio, uma das líderes do movimento, foi executada à queima-roupa no Centro do Rio. Apesar disso, o movimento continuou sua luta, ganhando repercussão nacional e internacional e inspirando diversos outros grupos ao longo das décadas seguintes.

Em outubro de 2023, o Brasil começou a ser julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos pelas mortes das 11 vítimas, bem como pela omissão nas investigações sobre os crimes.

Imagem de capa: Flávio Marroso / CMRJ

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Atualizado dia 15 de abril 2024.

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Débora Barroso

Jornalista comunitária e colaboradora da ComCausa.