Campanhas

Sinhô: O Rei do Samba que Desafiou Polêmicas e Encantou Multidões

Sinhô, filho de Ernesto Barbosa da Silva, um apaixonado pintor e admirador dos grandes chorões de sua época, teve seu destino artístico moldado desde jovem. Estimulado inicialmente a estudar flauta, o instrumento não conquistou seu coração, levando-o a se dedicar ao piano e ao violão.

Aos meros 17 anos, Sinhô decidiu casar-se com Henriqueta Ferreira, uma portuguesa, assumindo a responsabilidade de sustentar três filhos. No entanto, seu talento musical foi destinado a brilhar em outra direção. Por volta de 1911, ele se transformou em um pianista profissional, encantando os salões de dança das agremiações, como o Dragão Club Universal e o Grupo Dançante Carnavalesco Tome a Bença da Vovó. Seu amor pelo samba o levou a nunca perder uma roda na casa da baiana Tia Ciata, onde compartilhou sua paixão com outros sambistas notáveis, incluindo Germano Lopes da Silva, João da Mata, Hilário Jovino Ferreira e Donga.

Uma grande polêmica de sua carreira aconteceu em 1917, quando Donga, surpreendentemente, registrou o samba carnavalesco “Pelo telefone” como sua autoria, em parceria com Mauro de Almeida, embora na casa de Tia Ciata todos o conhecessem como “O roceiro”. Essa canção desenvolveu uma das maiores controvérsias da história da música brasileira, com vários compositores, incluindo Sinhô, reivindicando sua autoria. Para agravar a polêmica, em 1918, Sinhô compôs “Quem são eles”, provocando seus colegas de composição em relação a “Pelo telefone”. Como retaliação, ele recebeu canções como “Fica calmo que aparece”, de Donga, “Não é tão falado assim”, de Hilário Jovino Ferreira, e “Já te digo”, de Pixinguinha e seu irmão China, que não pouparam críticas: (“Ele é alto e feio/ e desdentado/ ele fala do mundo inteiro/ e já está avacalhado…”). Em resposta, Sinhô lançou a marchinha “O pé de anjo”, sua primeira composição gravada sob essa designação.

Sinhô tinha um gosto notável pela sátira, o que o levou a criar problemas mais sérios quando compôs “Fala Baixo” em 1921, uma brincadeira envolvendo o presidente Artur Bernardes. A ameaça de prisão o forçou a se refugiar na casa de sua mãe. Apesar de sua fama de farrista, Sinhô foi agraciado com o título nobre de “O Rei do Samba” durante a Noite Luso-Brasileira, realizada no Teatro República em 1927.

No ano seguinte, em 1928, ele se tornou professor de violão de Mário Reis, que se tornaria seu intérprete preferido e lançaria dois de seus maiores sucessos: “Jura” e “Gosto Que Me Enrosco”. Sua última composição, “O Homem da Injeção”, foi criada em julho de 1930, apenas um mês antes de sua morte. Infelizmente, a letra e a melodia dessa música desapareceram misteriosamente, não chegando ao conhecimento do público.

Sinhô faleceu tragicamente devido a uma hemoptise fulminante a bordo da barca Sétima durante uma viagem pela Ilha do Governador, onde residia, ao Cais Pharoux. Seu funeral foi descrito de forma literária por Manuel Bandeira, e ele foi sepultado no Cemitério do Caju.

Sinhô deixou um legado que transcendeu sua vida, com homenagens que perduraram até os dias de hoje. Seu talento e suas contribuições para o samba são lembrados através de um busto no Campo de Santana, no Rio de Janeiro. Em 1952, o filme “O Rei do Samba”, dirigido por Lulu de Barros e produzido por Cármen Santos, traçava a trajetória de vida de Sinhô. Em 2010, a TV Brasil dedicou um programa especial, “De Lá pra Cá”, para comemorar os 80 anos de sua morte. E em 2011, artistas como Luiz Henrique, Bob Lester e Marion Duarte prestaram homenagem ao Rei do Samba com o show “Tributo ao Rei do Samba Sinhô”, relembrando seus grandes sucessos e destacando sua influência na música brasileira.

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa