CampanhasRock ComCausa

Memória: Terremoto de Lisboa de 1755

Em 1º de novembro de 1755, Lisboa, a capital de Portugal, acordou sob um céu claro e um sol radiante. Era o Dia de Todos os Santos, uma data sagrada celebrada por muitos dos devotos moradores da cidade, que lotavam as igrejas para suas preces matinais. Entretanto, o que se seguiu a partir das 9h30 da manhã daquele dia ensolarado se tornaria uma das páginas mais sombrias da história de Lisboa e da Europa Ocidental.

De repente, um estranho ruído começou a ecoar pelas ruas da cidade. Muitos descreveram-no como o som de carruagens em marcha, enquanto outros ficaram perplexos com a origem desse ruído ensurdecedor. Logo, ficou evidente que a cidade estava sendo abalada por um terremoto de proporções gigantescas, que sacudiu grande parte da Europa Ocidental e a costa noroeste da África.

O reverendo Charles Davy, um dos estrangeiros que viviam em Lisboa na época, registrou em seu diário as cenas de pânico e destruição que se seguiram ao terremoto. Muitos sobreviventes buscaram refúgio numa vasta praça aberta junto ao rio Tejo, na esperança de escapar da fúria da natureza.

No entanto, o pior estava por vir. O terremoto provocou um tsunami no Atlântico, que avançou impiedosamente rio adentro, causando ainda mais mortes e destruição. O desastre foi agravado pelo fato de que, devido à celebração religiosa, todas as velas das igrejas e catedrais estavam acesas, e quando caíam, incêndios se propagavam e multiplicavam as chamas.

A notícia do catastrófico terremoto e tsunami em Lisboa se espalhou rapidamente por toda a Europa, tornando-se a primeira catástrofe global da mídia. Jornais, gazetas e viajantes de toda a Europa se concentraram no desastre que acontecera na capital portuguesa. Esse evento chocante ressoou profundamente na mentalidade da época, levando a reflexões e debates sobre a natureza, a religião e a humanidade.

Enquanto a Inquisição cuidava de seus negócios, as mentes iluminadas do período intensificaram suas reflexões sobre o evento. O filósofo Voltaire, por exemplo, escreveu sobre a reação das autoridades portuguesas à tragédia em seu conto filosófico “Cândido”, lançado em 1759, satirizando o ritual de penitência pública realizado para evitar futuros terremotos.

A reconstrução de Lisboa foi liderada por Sebastião José de Carvalho e Melo, que se tornaria o marquês de Pombal. O processo de reconstrução da cidade se estendeu por décadas, até meados do século XIX.

O trágico evento de 1º de novembro de 1755 também deixou um legado importante para a ciência. Muitos consideram essa data como o nascimento da sismologia, uma disciplina que estuda terremotos e suas causas. O impacto desse terrível terremoto deu origem a um interesse renovado na compreensão e prevenção de desastres naturais.

Hoje, Lisboa é uma cidade completamente diferente, reconstruída e moderna. No entanto, a tragédia de novembro de 1755 permanece viva na memória coletiva, lembrando-nos da resiliência humana diante das catástrofes naturais e da capacidade de aprendizado ao enfrentar desafios inesperados.

Memória, história e heavy metal

A tragédia de novembro de 1755 foi retratada no excelente álbum “1755” da renomada banda portuguesa de Gothic Metal, Moonspell, que é um dos grandes nomes da música pesada lusitana. Lançado em 3 de novembro de 2017, o álbum “1755” narra os eventos trágicos que marcaram a destruição de Lisboa naquele fatídico dia. Como era de se esperar, o disco é repleto de peso, profundidade e emoção, como pode ser apreciado nas faixas notáveis como “Em Nome Do Medo”, que serve como uma introdução impressionante, “1755”, “1 de Novembro”, “Evento”, “Desastre” e, particularmente, “Todos Os Santos”, que se destaca como a peça central do álbum.

Uma característica interessante e curiosa de “1755” é a inclusão de uma versão da canção “Lanterna dos Afogados”, um clássico da banda brasileira Os Paralamas do Sucesso. De acordo com o vocalista Fernando Ribeiro, essa versão é considerada uma peça musical de grande beleza.

Os membros do Moonspell encaram “1755” como uma reflexão poética, musical e filosófica sobre o trágico evento que devastou Lisboa em 1 de novembro, resultando na destruição completa da cidade.

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

One thought on “Memória: Terremoto de Lisboa de 1755

Fechado para comentários.