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Alerj recebe Rei de Cidade Nigeriana em evento sobre a Comunidade Iorubá No Brasil 

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) recebeu neste sábado (18), em sua antiga sede, o Palácio Tiradentes, o rei da histórica cidade nigeriana de Ifé, Adeyeye Enitan Ogunwusi. Ele foi recebido em solenidade presidida pela deputada Dani Balbi (PCdoB), reunindo políticos, entidades do setor empresarial, artistas, líderes religiosos e formadores de opinião. 

“Hoje estou entre pessoas maravilhosas, homens e mulheres que são parte do meu sangue e nós compartilhamos uma raiz ancestral. Ver vocês me dá muita energia”, disse o rei. “Assim que cheguei ao país, minha energia se reacendeu. Estou muito feliz de estar aqui. Todas as vezes que vocês me dão essa honra, esse reconhecimento, eu honro todos os meus ancestrais. Todos eles ocupam o trono comigo”, completou. 

O evento foi organizado pela organização The African Pride e pensado como forma de fortalecer as relações políticas, empresariais e culturais entre Brasil e Nigéria. “Eu acredito numa relação forte entre os nossos países, principalmente entre os iorubás”, disse o líder. 

Para refletir como “o futuro é ancestral”, o evento reforçou a importância do continente africano como lugar de educação, negócios, investimentos e turismo a ser reconhecido pela população brasileira descendente da diáspora. O de movimento de migração forçada ocorreu durante o período da escravidão e deixou marcas profundas na história, cultura e identidade dos povos africanos e de seus descendentes. 

Ifé considerada o berço da civilização iorubá e um importante centro de arte, cultura e tradição africana. “Ainda que as origens do povo brasileiro tenham vindo de uma diáspora forçada, a marca dessa cultura é muito significativa porque estabeleceu os paradigmas daquilo que a gente depois vai identificar como brasilidade”, pontuou a deputada Dani Balbi. 

“A relevância desse evento também está na aproximação entre o Brasil e países em desenvolvimento como o Brasil num sentido de uma emancipação econômica, mais dinâmica e menos dependente do centro do capitalismo europeu e que possa reconfigurar as relações produtivas entre os nossos países”, completou a parlamentar. 

Influência na cultura brasileira 

O povo iorubá é originário do sudoeste da Nigéria e hoje reúne quase 40 milhões de pessoas em toda a África Ocidental. No Brasil, herdamos da cultura iorubá pratos típicos como acarajé, vatapá e caruru, crenças religiosas como o Candomblé. 

Na cerimônia para o rei, a atriz e cantora Elisa Lucinda cantou uma música tradicional em iorubá e recitou sua poesia “A Herança ou o Último Quilombo”, que realça a herança cultural dos antepassados no Brasil marcado pelo racismo e pela desigualdade social. 

“Devagar, persistente, sem parar, caminho na estrada ancestral do bom homem / Herdo sua coragem, herdo a insistente dignidade daquele que morreu lutando pela minha liberdade”, dizem os primeiros versos. 

O rei de Ifé destacou a importância do resgate às origens do povo negro no país, como através de programas como o “Back to Home”. “Queremos levar vocês de volta à raiz, de volta para sua casa, para que vocês desempenhem um papel relevante”, disse o monarca. 

Oportunidades de negócios 

Antes da solenidade, o rei e sua comitiva foram recebidos pelo embaixador da Nigéria no Brasil, Muhammad Makarfi Ahmad, líderes religiosos, de movimentos sociais e representantes empresariais. 

“Estamos tendo agendas com comitivas de empresários vindo do Brasil. Peço que continuem apoiando esse processo para que o nosso povo possa aumentar as nossas relações. A Nigéria tem um carinho muito especial pelo Rio de Janeiro”, disse o embaixador da Nigéria, que destacou o novo momento político de ambos os países para o fortalecimento de uma política internacional. 

O embaixador destacou a importância do Rio de Janeiro na produção de petróleo e nas indústrias de energia solar e construção civil. Ele também lembrou que nigerianos já estão investindo no país, citando a realização de eventos de moda em estados como a Bahia e Goiás, assim como brasileiros já investiram na Nigéria. 

“Eu desejo que parceiros dos dois lados possam caminhar juntos. A gente pode restaurar o que aconteceu em 1980. Quando você vai a Lagos, na Nigéria, você vê indícios do Brasil através dos negócios que foram estabelecidos na Região”, disse o embaixador. 

Para o diretor comercial da Firjan, Mauro Varejão, destacou como todo o continente Africano é um ambiente de parcerias a ser explorado pelas empresas do Rio de Janeiro. 

“Temos problemas seríssimos na economia e esse é um campo aberto que temos que procurar, temos que acreditar. Tem várias empresas fora do Rio que já estão trabalhando na África, mas eu ainda não vi nenhuma do Rio. As que estão lá não querem saber de outra coisa”, disse. 

Na solenidade, também aconteceu a assinatura simbólica de um termo de cooperação entre a Fundação Oswaldo Cruz, a universidade Ojaja e o Palácio de Ifé. A ideia é aproximar a fundação da Nigéria e estudar, no Brasil, os conhecimentos tradicionais medicinais das ervas. 

Cidades irmãs 

O rei de Ifé também recebeu de presente uma placa com a Lei Municipal 7.236/22, que declara a cidade de Ifé, na Nigéria, como cidade-irmã da cidade do Rio de Janeiro. A medida possibilita programas de cooperação e intercâmbio nas áreas cultural, social, educacional, científica, turística, tecnológica, saúde, econômica, esporte, ambiental e comercial. 

“A Nigéria está logo ali, está muito próxima. Temos uma comunidade muito grande vinda de África no Rio de Janeiro e sabemos que os costumes e as tradições são muito parecidas. Esse processo de irmanação foi uma construção coletiva e que permite expandir essa relação para enriquecer o Rio de Janeiro e a cidade de Ifé”, disse o autor da lei, o deputado federal Reimont (PT), que foi vereador da cidade do Rio. 

Esta é a segunda visita que o rei faz ao Brasil. Em 2018, ele veio ao Rio de Janeiro e ao Palácio Tiradentes, onde recebeu a maior honraria concedida pela Alerj, a Medalha Tiradentes. Na ocasião, o rei estava visitando vários países com o objetivo de reaproximar os afrodescendentes de suas raízes culturais africanas. “Pudemos estabelecer relações muito frutíferas. Se não fosse à pandemia, eu teria vindo muitas outras vezes”, comentou o monarca. 

Orgulho da África 

Durante o evento, a ex-deputada Mônica Francisco, a yalorixá Edelzuita de Osaguia, e a rainha de Escola de Samba da Vigário, Egili Oliveira, foram homenageadas com o prêmio Orgulho da África, reconhecendo seu esforço em manter a cultura, a história e a memória africana vivas no Brasil. 

Fonte: Alerj

Comunicação de interesse público | ComCausa

Virtuo Comunicação

Débora Barroso

Jornalista comunitária e colaboradora da ComCausa.