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Aniversário do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz Inácio Lula da Silva, amplamente conhecido como “Lula”, é uma figura de destaque na política brasileira. Nascido em Garanhuns, Pernambuco, em 27 de outubro de 1945, sua trajetória é marcada por origens humildes e um percurso notável que o levou a ocupar a presidência do Brasil por dois mandatos.

Lula teve uma infância marcada por dificuldades econômicas e, ainda jovem, migrou com sua família para São Paulo. Inicialmente, trabalhou como metalúrgico e, simultaneamente, emergiu como líder sindical, adquirindo o apelido “Lula”, uma forma carinhosa de se referir a “Luís”. Durante os anos da ditadura militar no Brasil, ele desempenhou um papel fundamental na liderança de greves operárias na região do ABC Paulista e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, no contexto da abertura política.

Lula também se destacou como uma figura proeminente no movimento “Diretas Já”, que lutava pela redemocratização do país, marcando o início de sua carreira política. Em 1986, ele foi eleito deputado federal por São Paulo, com uma votação expressiva. No entanto, a sua primeira tentativa de alcançar a presidência, em 1989, resultou numa derrota no segundo turno para Fernando Collor de Mello. Lula concorreu mais duas vezes à presidência, em 1994 e 1998, sem sucesso, perdendo ambas as eleições no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Sua vitória nas eleições presidenciais de 2002, após a derrota de José Serra no segundo turno, marcou um ponto de virada em sua carreira política.

O governo de Lula foi caracterizado pela consolidação de programas sociais notáveis, como o Bolsa Família e o Fome Zero, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas por seu papel crucial na erradicação da fome no Brasil. Durante seus dois mandatos presidenciais, implementaram reformas significativas que geraram mudanças substanciais na sociedade e na economia brasileira. O país acumulou reservas internacionais consideráveis, triplicou seu Produto Interno Bruto per capita e alcançou o grau de investimento. Houve redução significativa nos índices de pobreza, desigualdade, analfabetismo, desemprego, mortalidade infantil e trabalho infantil, enquanto o salário mínimo e a renda média dos trabalhadores tiveram aumentos reais. Além disso, houve uma expansão do acesso à educação, universidade e atendimento de saúde.

Lula também se destacou na política internacional, desempenhando um papel relevante em questões como o programa nuclear do Irã, o aquecimento global e as negociações no âmbito do Mercosul e dos BRICS. Durante seu mandato, ele conquistou altos índices de popularidade no Brasil e no cenário internacional, sendo amplamente considerado um dos políticos mais populares da história do Brasil e uma das figuras mais populares no mundo durante seu mandato.

Após o término de seu mandato presidencial, Lula participou ativo na política e tornou-se um palestrante requisitado tanto no Brasil quanto no exterior. Em 2018, ele buscou novamente a presidência, mas sua candidatura foi prejudicada devido a uma reportagem no âmbito da Operação Lava Jato, um julgamento que gerou polêmica. No entanto, em 2019, ele foi libertado com base em uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que anulou gradualmente suas condenações.

Com seus direitos políticos restaurados, Lula concorreu à presidência nas eleições de 2022 e alcançou uma vitória histórica ao derrotar o então presidente Jair Bolsonaro, tornando-se a primeira pessoa a superar um presidente brasileiro que buscava a reeleição. Assim, Lula retomou seu lugar no cenário político brasileiro, desempenhando um papel de destaque na liderança do país.

Origens e infância

Luiz Inácio Lula da Silva, nascido ontem dia 27 de outubro de 1945 na localidade de Caetés, situada no interior de Pernambuco, tem uma história de origens humildes que moldaram sua vida desde o início. Ele é o sétimo entre os oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, carinhosamente conhecida como Dona Lindu. Seus pais eram lavradores iletrados que enfrentaram a fome e a miséria na zona mais desfavorecida de Pernambuco.

Quando sua mãe estava prestes a dar à luz, seu pai, Aristides, decidiu buscar uma nova oportunidade de vida como estivador em Santos. Levou consigo Valdomira Ferreira de Góis, apelidada de “Mocinha”, uma prima de Dona Lindu, com quem ele formou uma segunda família. Mocinha já estava grávida quando partiram, e juntos eles tiveram dez filhos.

Nesses primeiros anos, Aristides enviou dinheiro para Dona Lindu para ajudar a sustentar uma família que ficou em Pernambuco. A casa onde Lula nasceu era uma modesta meia-água construída com estuque, e o chão era de terra. Não havia banheiro, e os banhos eram tomados em açúcares localizados a seis quilômetros de distância. As crianças dormiam em redes, e havia escassez de água potável, com a família tendo que buscar água em açudes ou barreiros, além de filtra-la devido à quantidade de impurezas.

Em dezembro de 1952, Dona Lindu decidiu migrar com seus filhos para o litoral do estado de São Paulo para se reunirem com Aristides, acreditando que esse era o desejo dele. No entanto, o pedido veio na realidade do filho Jaime, que já vivia com o pai. A jornada foi difícil, feita em condições precárias em um transporte chamado “pau-de-arara”. Ao chegar ao Guarujá, eles tiveram que compartilhar a vida com a segunda família de Aristides, que já havia visitado sua primeira família no Nordeste em 1950, apresentando seus novos filhos.

A convivência com Aristides provou ser desafiadora devido à sua natureza controladora, violenta e arbitrária. Essa difícil relação levou Dona Lindu a deixar a casa de Aristides, inicialmente morando em um barraco próximo a ele e, em 1955, mudando-se para a Vila Carioca, um bairro de São Paulo. Lula e seu irmão José Ferreira de Melo, conhecido como Frei Chico, passaram algum tempo morando com o pai e sua segunda família antes de se mudarem para a capital em 1956.

Após a separação, Lula relatou ter contato com seu pai, que faleceu em 1978 e foi enterrado como indigente. Lula e seus irmãos só conheceram a morte de Aristides vários dias após o enterro, encerrando assim um capítulo complexo e desafiando sua história familiar.

Educação e trabalho

Durante o período em que as duas famílias de seu pai viveram juntas, Lula aprendeu a ler e escrever no Grupo Escolar Marcílio Dias, apesar da resistência de seu pai, que era analfabeto e acreditava que seus filhos não deveriam frequentar a escola, mas sim trabalhar . Enquanto ainda morava no Guarujá, aos oito anos, ele trabalhava como vendedor no cais e realizava tarefas como lenha, mariscos, caranguejos, buscar água e, ocasional, atuar como vendedor nas ruas.

Aos doze anos, após mudar-se para São Paulo, Lula iniciou um trabalho como entregador de roupas de uma tinturaria para ajudar na renda familiar. Durante esse período, também desempenhava atividades como engraxate e auxiliar de escritório. Em 1960, conseguiu seu primeiro emprego formal como office boy nos Armazéns Gerais Colúmbia. Posteriormente, ele se tornou aprendiz de torneiro mecânico na metalúrgica Parafusos Marte por meio de um convênio entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e os Parafusos Marte.

Em 1961, Lula foi aprovado em um curso de tornearia mecânica oferecido pelo SENAI e continuou trabalhando meio período na Parafusos Marte enquanto estudava no SENAI no outro meio período. Dois anos depois, em 1963, obteve seu diploma de meio-oficial de torneiro mecânico pelo SENAI.

Refletindo sobre o impacto de sua formação como torneiro mecânico, Lula destacou a importância do SENAI em sua vida, mencionando que foi o primeiro de seus irmãos a adquirir uma profissão, ganhando mais do que o salário mínimo, ter uma casa, um carro, uma televisão e uma geladeira, tudo graças à sua profissão de torneiro mecânico e à formação no SENAI.

Durante seu tempo na Parafusos Marte, Lula também participou de movimentos grevistas pela primeira vez. Quando suas reclamações por aumentos salariais não foram atendidas, ele deixou os Parafusos Marte e foi trabalhar na Metalúrgica Independência. Foi lá que, em 1964, ocorreu um acidente que resultou na amputação do dedo mínimo de sua mão esquerda. Inicialmente, ele sentiu vergonha da lesão e tentou escondê-la no bolso.

De 1964 a 1965, Lula trabalhou no Fris-moldu-car como meio oficial de torneio, mas foi demitido após faltar ao trabalho em um sábado. Em 1965, ele passou um período de desemprego, juntamente com seus irmãos, e teve que recorrer a empregos temporários, os chamados “bicos”, para sobreviver.

Finalmente, em 1966, Lula foi contratado pelas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde trabalhou como torneiro mecânico e recebeu um salário significativamente maior do que em seus empregos anteriores. As Indústrias Villares eram uma empresa mais substancial e organizada em comparação com as metalúrgicas em que ele havia trabalhado anteriormente. Lula esteve associado à empresa até 1980.

Luta Sindical e a Ditadura Militar

Quando o golpe de Estado de 1964 varreu o cenário político brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, apareceu alheio às controvérsias do momento. Naquele período, a política não ocupava um espaço significativo em sua vida, e, como ele mais tarde confessaria, “eu não tinha a menor noção do significado”. Em 1968, contudo, Lula deu um passo que marcou o início de sua trajetória sindical ao filiar-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.

A sua adesão ao sindicato não foi imediata, uma vez que ele nutria uma visão desfavorável do movimento sindical na época. Naquela fase de sua vida, Lula tinha como principal interesse o futebol, e a ideia de se envolver em atividades sindicais não o atraía. Apesar de sua falta de experiência no campo sindical, Lula já era reconhecido como uma figura carismática, alguém que se destacava e expressava as aspirações dos trabalhadores. Com o apoio de seu irmão Frei Chico, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Lula acabou reforçando a fazer parte da chapa sindical. Ele foi eleito como o 19º diretor entre os 25 diretores e suplentes, continuando, ao mesmo tempo, a trabalhar como operário.

No entanto, sua visão sobre o sindicalismo começou a mudar quando Lula assumiu o papel de suplente no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Foi nesse momento que ele começou a desenvolver o que chamou de “um mínimo de consciência de classe”. Tornou-se presença uma ativa na vida sindical, envolvendo-se em questões jurídicas dos filiados. Ainda que não fosse reconhecido por suas habilidades de oratória e admitisse ser bastante inibido, Lula participou de vários cursos sobre relações trabalhistas e legislação, além de trabalhar em suas habilidades de comunicação.

Sua dedicação e trabalho na suplência durante as eleições sindicais de 1972 lhe renderam uma indicação unânime para o cargo de primeira secretaria, uma posição hierarquicamente relevante. Como resultado, Lula foi liberado de suas funções como operário e passou a receber seu salário integral. Ele também foi nomeado para a Diretoria de Previdência Social e FGTS. Além disso, Lula deixou o Brasil em nome do sindicato, defendendo sua visão do “novo sindicalismo brasileiro”. Embora tenha sido convidado por líderes comunistas para se filiar ao partido, Lula manteve sua independência política e decidiu tais propostas.

Em 1975, Lula foi eleito presidente do sindicato, em uma eleição que não teve concorrentes. Nos bastidores do movimento sindical, havia a expectativa de que ele fosse uma figura decorativa, enquanto o então primeiro secretário, Paulo Vidal, continuava liderando a categoria. No entanto, Lula eventualmente assumiu um papel de liderança, afastando a influência de Vidal no sindicato.

Sob a presidência de Lula, o sindicato ganhou destaque nacional ao liderar as demandas por aumento de mudança. Lula tentou cultivar uma imagem de independência, ao mesmo tempo em que estabeleceu relações com autoridades do regime militar, líderes da indústria e da mídia. Sua influência foi tal que o governador Paulo Egydio Martins falou como “o mais importante dirigente sindical do país”. À medida que suas viagens a Brasília se aproximavam da política convencional, ele começou a ser associado ao bordão de que, se alguém quisesse criar um “partido dos trabalhadores”, teria que “usar macacões”.

Lula foi reeleito presidente do sindicato em 1978, novamente sem concorrência. No segundo mandato, com a inflação em alta e o poder de compra trazendo, ele mudou uma postura mais assertiva, liderando greves dos metalúrgicos da Região do ABC no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. A primeira greve começou em maio de 1978 e envolveu 235.000 trabalhadores ao longo de quatro meses. Em março de 1979, uma greve geral mobilizou 600 fábricas na região. A liderança de Lula descobriu em aumentos salariais além do previsto.

No entanto, as greves foram declaradas ilegais pelo Poder Judiciário. Devido ao seu papel de liderança, Lula foi detido por 31 dias no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, sob acusação de violar a Lei de Segurança Nacional. O sindicato foi intervencionado, e Lula teve seu mandato suspenso temporariamente. Em 1981, ele foi condenado pela Justiça Militar, mas a sentença foi posteriormente anulada. As greves no ABC projetaram Lula nacional e internacionalmente, sendo comparadas a Lech Wałęsa na Polônia. O carisma de Lula e sua retórica “sedutora” e “linguagem populista” também se destacaram nesse período.

Criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e o início da carreira politica

No auge da ditadura militar no Brasil, o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de sua desconfiança em relação aos políticos e partidos dominantes, surpreendeu ao apoiar candidatos a cargos eletivos, incluindo Fernando Henrique Cardoso em sua campanha ao Senado em 1978. Seu O ceticismo em relação ao sistema político vigente começou a mudar durante a greve de 1979, quando ele começou a defender a necessidade de criar um partido político que representasse os interesses dos trabalhadores.

Em 1980, as diretivas para a formação do Partido dos Trabalhadores (PT) começaram a ganhar força, com Lula desempenhando um papel fundamental como líder sindical e assumindo a presidência da executiva nacional logo após ser libertado da prisão no DOI-CODI em 26 de maio de 1980. Em um discurso em agosto daquele ano, ele proclamou: “O PT é uma coisa muito prática… Estamos precisando de um instrumento, uma ferramenta, para abrir espaço para a participação política do trabalhador. E o PT é isso! ” O partido, com tendências radicais, rejeitou todos os modelos de esquerda existentes, adotando um discurso socialista que buscava apoio das “massas em luta”.

Em fevereiro de 1980, Lula anunciou publicamente a criação do PT, e o partido foi formalmente reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral em 11 de fevereiro de 1982. Entretanto, sua primeira incursão na política eleitoral não foi bem-sucedida, já que Lula ficou em quarto lugar na corrida pelo governo de São Paulo, com 10,77% dos votos, um resultado abaixo do esperado que o deixou profundamente desanimado. No entanto, decidiu seguir o conselho de Fidel Castro e permanecer activo na política.

Em 1984, Lula se destacava como uma das principais lideranças do movimento das “Diretas Já”, que buscava a restauração do voto direto para a eleição presidencial. O Congresso não aprovou a Emenda Dante de Oliveira, e a eleição presidencial acabou sendo indireta. O PT boicotou o processo e a maioria de seus deputados federais se abstiveram na votação que elegeu Tancredo Neves.

Nas eleições de 1986, Lula optou por concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados e obteve uma vitória expressiva, com 651.000 votos, a maior votação para o cargo até aquele momento. Ele se uniu à Assembleia Nacional Constituinte de 1987, que foi responsável pela elaboração da Constituição Federal de 1988. No entanto, sua experiência como parlamentar não foi satisfatória, pois ele considerava seus colegas elitistas e sua família continuava residindo em São Bernardo do Campo. Lula persistiu, pois acreditava que os discursos não resolveriam os problemas e eram frequentemente ignorados pelos outros deputados.

Durante a Constituinte, Lula apoiou diversas medidas importantes, como o direito de greve, o aviso prévio proporcional, a reforma agrária, a estabilidade do dirigente sindical, entre outras. Ele também apresentou projetos de lei e fez numerosos discursos na tribuna da Câmara. Sua atuação na Constituição foi elogiada por sua defesa incansável dos direitos sociais dos trabalhadores e sua habilidade como negociador. Lula também se posicionou em questões polêmicas, como a limitação do direito de propriedade privada, o aborto, o voto aos 16 anos de idade e a estatização do sistema financeiro. Em resumo, essa fase de sua carreira política foi marcada por desafios e perseverança, moldando o futuro líder do PT.

Candidatura à Presidência da República em 1989

No ano de 1989, o Brasil viveu um momento histórico com a realização da primeira eleição direta para presidente da República após o golpe militar de 1964. Esta eleição foi marcada por uma disputa política fragmentada, com pesquisas de opinião negativas a liderança de Fernando Collor, ex-governador de Alagoas, cuja campanha se baseava em se apresentar como um “candidato contra o sistema” comprometido em combater os “marajás” e se autoproclamando como “o oposto de José Sarney”.

As candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, e Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), obtiveram um sólido apoio de seus respectivos partidos políticos. Outros candidatos notáveis ​​incluíam Leonel Brizola, que se considerava herdeiro do populismo de Getúlio Vargas, Paulo Maluf, representante da direita, e Ulisses Guimarães, um símbolo da oposição à ditadura, que havia presidido a Assembleia Constituinte.

De acordo com as novas regras constitucionais, era necessário que um candidato obtivesse mais de 50% dos votos válidos para ser eleito no primeiro turno.

Lula contornou com o apoio da Frente Brasil Popular, uma coligação de partidos de esquerda, que incluía o PT, PSB e PC do B. Lula enfrentou desafios, pois sua campanha era considerada amadora, com recursos financeiros limitados e falta de apoio técnico . No início, as pesquisas indicaram que seus desejos de voto eram de apenas 2,5%, levando-o a cogitar desistir. No entanto, com o início da propaganda eleitoral gratuita, ele conseguiu conquistar mais apoio do eleitorado.

O manifesto do PT propunha uma renegociação da dívida externa e uma reforma agrária, propostas consideradas radicais por setores da classe média e conservadores, que se opuseram à sua candidatura.

A campanha de Lula enfrentou obstáculos adicionais quando veio à existência pública de sua filha, Lurian, fruto de um relacionamento com Miriam Cordeiro, e a alegação de que Lula havia prometido dinheiro a Miriam para fazer um aborto. Essas acusações foram exploradas por seus adversários e tiveram um impacto significativo na campanha.

Na primeira votação, Fernando Collor liderou com 30,48% dos votos, seguido por Lula com 17,19% e Brizola com 16,51%. A diferença entre Lula e Brizola foi de 454.000 votos, num universo de 67,6 milhões de votos válidos.

No segundo turno, Lula recebeu o apoio de diversos partidos, incluindo o PDT, PCB, PMDB e PSDB, enquanto Collor angariou o apoio dos demais. As pesquisas indicaram uma vantagem inicial de Collor, que, no entanto, posteriormente ao ponto de, nas vésperas da votação, houve um empate técnico entre os dois candidatos. A campanha de Lula buscou melhorar sua imagem com uma visão otimista e lançou o jingle “Lula Lá”.

O último debate, realizado na TV Globo, foi marcado por acusações de favorecimento a Collor pela emissora. Além disso, em um contexto tenso, o empresário Abílio Diniz foi sequestrado por membros do Movimento da Esquerda Revolucionária e liberado um dia antes da votação, com notícias de que camisetas e faixas do PT foram descobertas com os sequestradores.

Finalmente, em 17 de dezembro, Fernando Collor foi eleito presidente da República, derrotando Lula com 53% dos votos contra 47%, uma margem de quatro milhões de votos. Collor venceu em todo o país, exceto na região Sul, onde Lula obteve vitórias significativas nos estados do Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Campanhas de 1994 e 1998

Durante o governo de Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, concentrou seus esforços no fortalecimento do Partido dos Trabalhadores (PT), reassumindo a presidência do partido em junho de 1990. Paralelamente ao seu compromisso com o socialismo, Lula ver que, após a derrota nas eleições de 1989, era necessário formar alianças com o centro e a direita.

Por meio do manifesto “O Socialismo Petista”, o PT desenvolveu uma postura comprometida com os valores da democracia plural, criticando a União Soviética por ser antidemocrática e apoiando movimentos como a Solidariedade Polonesa. Além disso, o partido criticou o que considerava ser o imperialismo norte-americano e o capitalismo.

Em julho de 1990, o PT distribuiu um “governo paralelo” inspirado no sistema britânico de “gabinete sombra”, que tinha como objetivo fiscalizar o governo de Collor, apresentar propostas e preparar um governo potencial do PT. Lula desempenhou um papel de liderança nesse governo paralelo.

Em 1992, Lula desempenhou um papel crucial no movimento que levou ao afastamento de Collor da presidência. No plebiscito sobre o sistema de governo em 1993, Lula apoiou uma proposta parlamentar.

Durante o mandato de Itamar Franco, Lula manteve boas relações pessoais com o presidente, mas encontrou oposição ao seu governo.

Em 1993, Lula iniciou a “Caravana da Democracia”, uma série de viagens por 23 estados do país, com o objetivo de preparar sua segunda candidatura presidencial. Em seus discursos, ele focava nas necessidades dos pobres e argumentava que a classe política estava desconectada das demandas populares.

Lula liderou as pesquisas de opinião com uma vantagem significativa até meados de 1994, quando o sucesso do Plano Real, que havia menosprezado e rotulado como estelionato eleitoral, fortaleceu a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, que era o ministro da Fazenda e foi lançado como candidato governamental. No primeiro turno das eleições de 1994, FHC foi eleito com 54,3% dos votos, enquanto Lula obteve 27%. Essa derrota contundente da candidatura petista foi difícil de prever apenas dois anos antes e foi atribuída ao sucesso do Plano Real.

Lula continuou sua atuação como líder da oposição e expressou a intenção de concorrer novamente à presidência. Em 1995, ele deixou a presidência do PT.

Em 1998, Lula foi lançado como candidato à presidência contra FHC, com seu antigo rival Leonel Brizola como candidato a vice-presidente em sua chapa. Em busca de construir novas bases de apoio, Lula dialogou com líderes de tendências evangélicas. Ele responsabilizou FHC pela crise econômica, mas essa estratégia não obteve sucesso. Mais uma vez, a eleição foi decidida no primeiro turno, com a reeleição de FHC, que obteve 35,9 milhões de votos contra os 21,4 milhões de Lula.

Após essa derrota, Lula discutiu com seus assessores a possibilidade de ser substituído por outro candidato da esquerda na próxima eleição, incentivando colegas de partido como Tarso Genro e Eduardo Suplicy a testar suas escolhas eleitorais. No entanto, o partido decidiu que Lula fosse a melhor opção e ele venceu as prévias presidenciais do PT em 2002 com 84,4% dos votos, derrotando Eduardo Suplicy.

Presidência do Brasil (2003–2011)

Decidido a concorrer à presidência pela quarta vez, Luiz Inácio Lula da Silva, popularmente conhecido como Lula, apresentou uma abordagem mais cautelosa em sua campanha, evitando posições radicais, um erro que cometera nas campanhas anteriores. Para ampliar a sua base de apoio, ele fez acordos cruciais em termos de alianças políticas e programas eleitorais.

Como estratégia de marketing, Lula contratou o renomado marqueteiro Duda Mendonça, que já havia trabalhado em campanhas de outros políticos, como Collor e Maluf. Sua plataforma social mais atrai enfocava a erradicação da fome como um objetivo fundamental. Em junho de 2002, Lula publicou uma “Carta ao povo brasileiro” para entusiasmar o mercado financeiro, onde se comprometeu a equilibrar o desenvolvimento econômico com a justiça social, controlar a inflação, manter o equilíbrio fiscal e administrar a dívida interna e externa de maneira responsável. Para a vice-presidência, escolheu o senador e empresário José Alencar, que atuou como uma ponte entre Lula e o mercado financeiro.

A campanha de Lula se concentrou nas cidades mais populosas do país e ampliou seu leque de alianças, unindo forças políticas que anteriormente eram rivais. No primeiro turno, Lula obteve 39 milhões de votos, representando 46,4% do total de votos válidos, enquanto José Serra, o candidato do governo FHC, recebeu 23,2% dos votos. A campanha do segundo turno entre Lula e Serra foi estável, com Lula recebendo o apoio de políticos como Antônio Carlos Magalhães. Em 28 de outubro, Lula foi eleito com 61% dos votos, vencendo em todos os estados e no Distrito Federal, exceto em Alagoas. Sua eleição marcou a primeira vitória de um candidato presidencial de esquerda no Brasil. Em seu discurso de diplomação, Lula enfatizou: “E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganhei o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país.”

No dia 1º de janeiro de 2003, Lula foi empossado como o 35º presidente da República do Brasil, tornando-se o primeiro filiado ao PT e o primeiro ex-operário a ocupar essa carga. Em seu discurso de posse, prometeu combater a fome, gerar empregos, implementar políticas de proteção social, valorizar o comércio exterior e priorizar as relações internacionais, com destaque para a América do Sul. Lula buscou estabelecer um governo de coalizão e montou um gabinete com 34 ministérios, incluindo membros de vários partidos, como PT, PL, PC do B, PPS, PSB, PDT, PTB e PV.

No âmbito da política econômica, Lula optou por manter o Plano Real e respeitar a autonomia do Banco Central. Ele buscou equilibrar a estabilidade econômica com a inclusão social, adotando uma abordagem gradual e programática para as reformas necessárias. O governo implementou o Programa Bolsa Família, que se tornou o carro-chefe das políticas sociais e expandiu significativamente o acesso ao ensino superior por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni). Lula também fortaleceu as relações internacionais do Brasil, priorizando o diálogo com países em desenvolvimento e promovendo o Brasil como uma potência global emergente.

Na busca por sua reeleição em 2006, Lula representou Geraldo Alckmin em um segundo turno eleitoral. Sua campanha enfatizou a continuidade das políticas sociais e econômicas bem-sucedidas de seu governo. Embora as pesquisas iniciais indicassem uma vantagem significativa, o escândalo do dossiê e a ausência no debate da TV Globo enfraqueceram sua candidatura. No entanto, Lula foi reeleito com 60,83% dos votos válidos, garantindo um segundo mandato.

Seu segundo mandato manteve o foco em políticas sociais, crescimento econômico e desenvolvimento de infraestrutura. Lula desafiou desafios, como o mensalão, um escândalo de corrupção que envolveu membros de seu partido, mas ele negou qualquer envolvimento e prometeu combater a corrupção.

Ao longo de seus oito anos de governo, Lula foi elogiado por suas políticas sociais, que ajudaram a reduzir a pobreza e a desigualdade no Brasil. Sua presidência representou um período de estabilidade econômica e inclusão social, consolidando sua popularidade e estabelecendo um legado duradouro no país.

legado como Presidente

No ano de 2002, o Brasil ocupava a 14ª posição no ranking global de economias, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo, ao longo dos anos, o país ascendeu notavelmente, alcançando a 7ª posição em 2011. Esse feito é frequentemente atribuído como uma das conquistas mais significativos dos governos dirigidos por Luiz Inácio Lula da Silva, notadamente em relação ao progresso social, notadamente a redução da pobreza e da fome.

O índice Gini, que mede a desigualdade social, apresentou uma queda substancial, saindo de 57,6 em 2002 e chegando a 52,9 em 2011. Entre os anos de 2003 e 2014, uma quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza de 42 milhões para 14 milhões, enquanto o número de brasileiros em situação de extrema pobreza passou de 13 milhões para 5 milhões no mesmo período. Em 2000, 10,9% da população sofria de desnutrição, uma proporção que caiu para 5,6% em 2007 e, posteriormente, para 2,5% em 2014. Essas conquistas levaram à atribuição, em 2010, do título de “Campeão Mundial na Luta Contra a Fome” a Lula, concedido pela Organização das Nações Unidas.

No entanto, o governo de Lula não esteve isento de escândalos de corrupção, nomeadamente o mensalão durante o seu primeiro mandato e o escândalo dos cartões corporativos no segundo. Após sua saída da carga, foram revelados desvios na Petrobras que totalizaram impressionantes 42,8 bilhões de reais, conforme estimado pela Polícia Federal. A atuação de Lula nestes casos é controversa, uma vez que investigador e a oposição o acusaram de ter conhecimento e até mesmo de comandar esses esquemas, enquanto Lula defendeu a postura de seu governo, destacando medidas como a autonomia da Polícia Federal, a seleção do procurador -geral da República dentre os mais votados da lista tríplice e a não interferência nas investigações.

A ênfase em políticas sociais e sua boa repercussão desempenharam um papel crucial na manutenção da popularidade de Lula, mesmo em meio às crises políticas. No final do seu segundo mandato, diversos indicadores registraram desempenho positivo. Além da redução da desigualdade e da pobreza, o analfabetismo entre pessoas com mais de 15 anos de idade caiu de 11,6% em 2003 para 8,6% em 2011, as reservas internacionais aumentaram de 49,3 bilhões de dólares em 2003 para 288,5 bilhões em 2010, o salário mínimo contínuo a ter ganho real, o desemprego caiu de 10% em 2003 para 6,9% em 2011, a inflação diminuiu de 14,7% em 2003 para 6,6% em 2011, e a taxa SELIC, inicialmente em 25,36% em 2003, estava em 11,17% em 2011.

Na eleição presidencial de 2010, Dilma Rousseff foi eleita presidente da República, e o apoio de Lula desempenhou um papel fundamental para o sucesso de sua candidatura. O Wilson Center observou que “pesquisas de opinião pública mostram que o cidadão brasileiro deseja moderadamente a continuação das políticas de Lula, especialmente no que se refere ao crescimento econômico, investimentos em infraestrutura e aprofundamento da política social”. Lula deixou a carga com uma aprovação pessoal superior a 80%, a mais alta avaliação popular da história do país.

Presidência do Brasil (2023–presente)

A transição presidencial para o governo Lula teve início no início de novembro de 2022. No entanto, o então presidente Bolsonaro não estendeu suas felicitações ao presidente eleito, nem conquistou sua derrota nas eleições. Nos últimos meses do mesmo ano, fervorosos apoiadores de Bolsonaro promoveram manifestações em todo o país, que foram marcadas por um tom golpista em oposição à vitória de Lula. Esses manifestantes, informados pelas denúncias de Bolsonaro sobre supostas falhas no sistema eleitoral e nas urnas eletrônicas, chegaram a pedir uma intervenção militar para impedir o retorno de Lula ao poder.

Em 1º de janeiro de 2023, Lula tomou posse como presidente do Brasil, mas não recebeu a faixa presidencial diretamente de seu antecessor. Em vez disso, foi realizada uma transferência simbólica, na qual representantes de diversos setores da sociedade brasileira participaram. O lema de seu governo era “União e proteção”. Inicialmente, o governo contava com 37 ministérios, sendo notável o fato de que onze deles eram liderados por mulheres, marcando um registro na história política do país.

Uma semana após a posse de Lula, houve uma tentativa de golpe contra seu governo, no entanto, essa tentativa não teve êxito.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa