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Momória: Nascimento de Belchior um dos maiores nomes da MPB

O renomado artista brasileiro, Antônio Carlos Gomes Belchior, cujo talento musical conquistou o coração de muitos, nasceu em Sobral, no Ceará, no dia 26 de outubro de 1946. Sua jornada na música começou cedo, influenciada pela voz de sua mãe, Dolores, que participou do coral da igreja, e pela inspiração fornecida por artistas notáveis ​​como Ângela Maria e Cauby Peixoto.

Durante seus anos como estudante no Colégio Sobralense, Belchior mergulhou em uma educação multifacetada, que incluía música, canto gregoriano, línguas e filosofia. Ao longo de sua infância, ele se dedicou ao estudo do coral e do piano sob a orientação de Acácio Halley, apresentando-se em feiras como cantor e poeta repentista.

Em 1962, o jovem talento mudou-se para a cidade de Fortaleza, onde deu os primeiros passos em sua promissora carreira artística. Entre 1965 e 1970, ele participou de vários festivais de música, shows amadores, programas de rádio e TV, compartilhando o palco com colegas notáveis ​​como Fagner e Ednardo.

Simultaneamente, Belchior concluiu seus estudos em uma instituição educacional dirigida por padres, onde se aprofundou na filosofia. Em um breve período, experimentei uma estadia no Mosteiro Guaramiranga, convivendo com frades italianos e dedicando-se ao estudo do latim, canto gregoriano e italiano.

Retornando a Fortaleza, Antônio Carlos Belchior matriculou-se no curso de medicina da Faculdade Federal do Ceará em 1968. No entanto, sua paixão inabalável pela música não permitiu que concluísse o curso, abandonando-o em 1971 para se dedicar integralmente à sua carreira artística .

Na capital cearense, o músico se estendeu com outros artistas de sua geração, como Fagner, Ednardo, Amelinha, Teti, Cirino, Jorge Mello e Rodger Rogério, formando um grupo conhecido como “Pessoal do Ceará”. Embora cada membro do grupo tivesse seus projetos artísticos distintos, eles deixaram uma marca de rigor na cena musical do Brasil.

Após concluir sua jornada acadêmica, Belchior tomou a decisão de alçar voos mais altos e mudou-se para o efervescente Rio de Janeiro. Sua entrada na cena musical foi marcada pelo IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira, onde surpreendeu a todos ao conquistar o primeiro lugar com a canção inesquecível “Na Hora do Almoço”.

Logo em seguida, Belchior lançou um compacto, intitulado “Na Hora do Almoço / Quem Me Dera”, pela gravadora Copacabana, oficializando sua estreia como cantor no ano de 1971.

Em 1972, ele embarcou rumo a São Paulo, onde deu início a uma carreira de compositor de trilhas sonoras para curtas-metragens e expandiu sua presença em praças públicas e programas de televisão. Neste período, ele também persistiu em sua composição, frequentemente colaborando com outros talentosos artistas cearenses.

O momento decisivo para Belchior ocorreu em 1972, quando sua música “Mucuripe”, uma parceria com Fagner, foi interpretada magistralmente por Elis Regina, tornando-se um sucesso estrondoso em todo o país. Esse marco abriu as portas para que Belchior fosse reconhecido como um dos artistas mais destacados do Brasil.

Após uma trajetória intensa, na qual ele se apresentou nos mais diversos lugares, desde escolas e teatros até penitenciárias e fábricas, Belchior finalmente conseguiu concretizar um de seus maiores sonhos: o lançamento de seu primeiro álbum, “A Palo Seco”, que viu a luz em 1974. A partir desse ponto, suas músicas passaram a ser registradas por uma ampla variedade de intérpretes.

Não obstante, o músico apresentou uma resistência especial por parte da mídia, devido ao caráter crítico de suas composições.

A consagração definitiva veio com o lançamento de “Alucinação” em 1976, uma obra-prima que perdura até hoje. Canções icônicas como “Apenas Um Rapaz Latino-Americano”, “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida” se transformaram em verdadeiros hinos e permaneceram clássicas.

Em grande parte, o sucesso de Belchior deve-se à notável Elis Regina, que imortalizou “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais” em seu espetáculo “Falso Brilhante” — esta última tornando-se um dos pontos altos do show e mais tarde sendo lançado em disco.

Em 1976, Belchior foi convidado a integrar o seleto grupo de artistas que fundou a divisão brasileira da gravadora WEA, hoje conhecida como Warner Music Group.

Mesmo após atingir o auge de sua carreira, Belchior continuou sua prolífica produção musical: lançou 14 álbuns ao longo de 25 anos, sem contar as diversas coletâneas, colaborações e álbuns ao vivo.

Um dos pontos culminantes de sua carreira foi a canção “Comentário a Respeito de John”, de 1979, uma emocionante homenagem a John Lennon, uma de suas principais influências musicais.

Além disso, suas composições foram desenvolvidas a serem interpretadas por outros artistas talentosos, incluindo Vanusa, Jair Rodrigues e Bianca. Da mesma forma, Belchior explorou novas dimensões em sua discografia, ao incluir composições de Arnaldo Antunes, Guilherme Arantes e Ednardo Nunes.

Belchior também gravou dois álbuns com versões em espanhol de suas próprias canções: “Eldorado” em 1998 e “La Vida Es Sueño” em 2001. Seu último álbum em português foi “Auto-Retrato”, uma coletânea de sucessos lançada em 1999. O legado de Belchior continua a ecoar na música brasileira, imortalizando sua contribuição única para a cultura musical do país.

Desaparecimento inexplicável

Em 2008, Antônio Carlos Gomes Belchior tomou uma decisão que desconcertou a todos os seus fãs e a indústria da música. De maneira inexplicável, o cantor renomado parou abruptamente de fazer apresentações ao vivo e desapareceu, deixando seus pertences pessoais em sua residência em São Paulo.

Essa súbita mudança de rumo levou a enfrentar uma série de desafios legais, incluindo um processo trabalhista e dois processos judiciais relacionados a questões familiares com suas filhas. Isso resultou no bloqueio de seus carros e contas bancárias, transformando-o em uma espécie de forgido da justiça.

A reviravolta surpreendente aconteceu quando, em 2009, Belchior foi localizado no Uruguai por turistas brasileiros e especificamente em conceder uma entrevista à Rede Globo. Durante o vídeo, ele revelou que não estava realmente desaparecido e planejava lançar um novo álbum de músicas inéditas, além de trabalhar na divulgação de suas canções em espanhol.

No entanto, o mistério em torno de Belchior voltou a tomar conta do noticiário em 2012. Desta vez, tanto ele quanto sua companheira, Edna Prometheu, com quem estava desde 2005, saiu de um hotel de luxo no Uruguai sem pagar as despesas.

Em um desfecho posterior, Belchior foi encontrado em Porto Alegre e refutou as acusações que pesavam sobre ele.

De acordo com uma investigação realizada pela revista Época, o cantor experimentou uma existência errática ao longo de uma década, muitas vezes sendo procurado pela polícia e recorrendo à hospitalidade de fãs e amigos para ter onde morar.

Até hoje, as razões subjacentes ao seu desaparecimento continuam sendo um enigma. Esse enigma intrigante serviu de motivação para o jornalista Jotabê Medeiros, que, em 2017, lançou a primeira biografia dedicada a Belchior: “Belchior – Apenas um rapaz latino-americano.”

Lamentavelmente, o artista nos deixou antes que o livro pudesse ser concluído, deixando uma profunda lacuna em sua história e legado na música brasileira.

Falecimento de Belchior

No dia 30 de abril de 2017, o Brasil perdeu uma de suas lendas musicais, Antônio Carlos Gomes Belchior. Aos 70 anos de idade, o artista faleceu em Santa Cruz do Sul, vítima do rompimento de um aneurisma da aorta, um evento que deixou o país de luto.

A notícia do seu passagem desencadeou uma comoção nacional, e o governo do Ceará respondeu declarando oficialmente um período de três dias de luto em homenagem ao músico icônico.

Belchior foi velado em sua cidade natal, Sobral, onde admiradores, amigos e familiares se despediram do artista. Seguindo seu último desejo, ele foi sepultado em Fortaleza, encerrando sua jornada terrena na terra que tão profundamente marcou sua trajetória artística e pessoal.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa