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Chacina da Grande Messejana uma noite de terror

Na madrugada de 11 a 12 de novembro de 2015, a região da Grande Messejana, em Fortaleza, Ceará, foi palco de uma série de homicídios que chocou a cidade. Em menos de seis horas, onze pessoas foram brutalmente assassinadas e sete ficaram feridas, tornando-se a maior chacina da história de Fortaleza.

As vítimas, todas do sexo masculino, eram em sua maioria jovens entre 16 e 19 anos. Três dos assassinados tinham antecedentes criminais, mas por delitos considerados leves.

A polícia trabalha com três linhas de investigação. A principal hipótese é de que os crimes tenham sido uma retaliação pela morte do policial militar Valterberg Chaves Serpa, de 32 anos, que foi morto ao reagir a um assalto na noite anterior à chacina. Outras duas possíveis motivações seriam represálias relacionadas à morte e prisão de traficantes da região.

Em 18 de novembro, uma manifestação pacífica reuniu centenas de pessoas no Conjunto Curió, pedindo o fim da violência e prestando homenagens às vítimas.

Motivações e Consequências

O Ministério Público do Ceará (MPCE) acredita que os policiais militares acusados de envolvimento na chacina agiram por vingança. Segundo o órgão, os PMs se reuniram naquela noite “com sentimento de vingança e de justiça” pela morte do colega Valtermberg Chaves Serpa.

Após uma investigação da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), o MPCE denunciou 45 policiais, incluindo dois oficiais e 43 praças. A justiça aceitou a denúncia contra 44 dos agentes, excluindo um dos oficiais. Os promotores de justiça que investigam o caso anunciaram que vão recorrer da decisão.

Os policiais envolvidos foram denunciados por homicídios duplamente qualificados, tentativas de homicídio e tortura. Eles estão presos desde 31 de agosto de 2016, no 5º Batalhão da Polícia Militar, sede do Comando de Policiamento da Capital.

Segundo o procurador-geral de Justiça, Plácido Rios, as provas apontam que as vítimas foram assassinadas, em sua maioria, com tiros na cabeça e não tiveram oportunidade de defesa. “Algumas vítimas se ajoelharam para não morrer, mas ainda assim não foram poupadas. Foi uma noite tenebrosa, que muito maculou o estado do Ceará, a sociedade, e uma instituição pela qual temos a imensa respeitabilidade, que é a PM do Ceará”, detalhou Rios.

Investigação revela comunicação entre policiais antes de assassinatos

Uma investigação sigilosa revelou que policiais se comunicaram por telefone e aplicativos de mensagens antes de uma série de assassinatos. Segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), veículos oficiais e descaracterizados, com placas adulteradas, foram usados na operação, conduzidos por policiais em serviço, de folga e indivíduos encapuzados.

A investigação ouviu 240 pessoas, incluindo policiais, familiares das vítimas e outras testemunhas. O MPCE destacou que os 45 policiais denunciados foram identificados através de provas técnicas, como imagens de segurança, fotossensores, registros telefônicos, GPS de viaturas, escutas telefônicas e localização de celulares via Estação Rádio Base (ERB).

O relatório técnico foi enfático ao afirmar que cada um dos 45 denunciados tem provas que comprovam sua participação ativa ou passiva nos assassinatos. “Ou eles estavam participando ou se omitiram de forma deliberada das condutas dos policiais, que poderiam ter impedido, se não por completo, pelo menos amenizado”, informou o relatório.

Os 11 assassinatos ocorreram entre a noite de 11 de novembro e a madrugada de 12 de novembro, nos bairros Curió, Alagadiço Novo, Messejana e São Miguel. Além das mortes, outras sete pessoas ficaram feridas.

Em um dos casos mais violentos, homens encapuzados em sete veículos abriram fogo contra um grupo de jovens na Rua Lucimar de Oliveira, no bairro Curió, por volta das 0h26 do dia 12. Quatro jovens foram mortos, dois no local e dois no hospital. Apenas uma das vítimas sobreviveu.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), das vítimas fatais, apenas dois respondiam por crimes de menor gravidade. Quatro das vítimas eram menores de 18 anos; três tinham entre 18 e 19 anos. Um homem de 41 anos foi morto dentro de um comércio.

A primeira audiência do processo será no dia 7 de outubro, às 9h, na 1ª Vara do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. As sete vítimas sobreviventes serão ouvidas.

A Associação dos Profissionais de Segurança (APS), que representa os policiais presos, alegou a inocência dos servidores investigados. O advogado da associação, Cícero Roberto, disse que ainda não adotou medidas judiciais em defesa dos policiais porque ainda não teve acesso à acusação.

Segundo o advogado, alguns dos policiais acusados afirmam que estavam de folga no dia dos crimes, outros que estavam em uma região distante do bairro onde ocorreu a chacina, e um terceiro grupo que estava presente no local dos homicídios, mas não participou dos crimes. Os policiais permanecerão presos à disposição da justiça.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa