Campanhas

Memória: Chacina da Rio Sampa

No fatídico dia 11 de fevereiro de 2006, a vida de dois amigos, Fabrício Rangel Kengen, um bancário e estudante de 26 anos, e Renato Jacques de Freitas Filho, estudante de Direito de 23 anos, foi brutalmente interrompida. Enquanto retornavam de uma festa, os jovens se tornaram alvos de perseguição por outro veículo, levando-os a buscar ajuda em um posto policial próximo.

Por volta das 5 horas da manhã, após serem perseguidos por outro carro desde a descida do viaduto de Mesquita, os jovens decidiram seguir em direção à Via Dutra e entraram na rua próxima à casa de shows Rio Sampa, em Nova Iguaçu, na esperança de encontrar auxílio no D.P.O. (Destacamento de Policiamento Ostensivo) de Andrade Araújo.

O motorista do outro veículo, identificado como Fabiano Rebello Viana, também se dirigiu ao D.P.O., onde encontrou o cabo Antônio César da Silva Herguet Ferreira e o sargento Nelson Gomes de Souza Segundo, com os quais tinha relações.

Contrariando as expectativas de socorro, os policiais não apenas ignoraram o apelo desesperado dos dois amigos, mas também se recusaram a atender à ocorrência, agredindo-os e expulsando-os do local. Pouco tempo depois, a uma distância de 700 metros do D.P.O. Andrade de Araújo, os dois foram mortos.

Segundo as investigações, Fabiano Rebello Viana, na época com 25 anos, seguiu o carro dos jovens. Quando Fabrício e Renato reduziram a velocidade ao lado da Rio Sampa, prestes a se dirigirem para Queimados, onde moravam, Fabiano parou seu veículo alguns metros atrás do carro dos jovens e atirou contra eles diante dos olhos de dezenas de testemunhas. Renato morreu no local, enquanto Fabrício foi socorrido, mas faleceu dias depois no hospital.

O caso chocou a comunidade e gerou grande repercussão. O inquérito policial foi conduzido com rapidez, e o Ministério Público apresentou denúncia contra os três acusados: Fabiano e os dois policiais militares. A denúncia foi acatada pela juíza da 4ª Vara Criminal do Fórum de Nova Iguaçu. Diversas evidências foram apresentadas, incluindo uma escuta telefônica que comprovava a presença do assaltante no local do crime, bem como o depoimento de uma testemunha que afirmou ter recebido uma ligação de Fabiano, na qual ele pedia para verificar se os “meninos do Astra” estavam mortos.

Foram emitidos mandados de prisão preventiva contra Fabiano, cabo César e sargento Segundo. Assim, no dia 16 de junho de 2006, em Brás de Pina, Fabiano Rebello Viana foi preso na casa de familiares e levado à 58ª DP (Posse), onde já havia um mandado de prisão contra ele. Segundo informações recebidas pelos policiais, o jovem estaria planejjando fugir para os Estados Unidos.

No entanto, as prisões foram de curta duração, pois meses depois, por meio de habeas corpus, os três acusados foram libertados e atualmente aguardam o desenrolar do processo em liberdade.

Posteriormente, o cabo César e o sargento Segundo foram expulsos da Polícia Militar. O caso só foi a julgamento em 2016, quando os PMs foram absolvidos da responsabilidade pelo homicídio, enquanto Fabiano Rebello Viana foi condenado a 27 anos, 7 meses e 20 dias de prisão pelo assassinato dos jovens.

Os advogados de Fabiano recorreram à segunda instância, mas a condenação pelo duplo homicídio foi mantida. Ele deixou o Fórum de Nova Iguaçu pela porta da frente, caminhando ao lado dos familiares de Fabrício e Renato.

Posteriormente, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) confirmou a decisão do primeiro julgamento. No entanto, Fabiano permaneceu escondido até que, em 7 de outubro de 2022, agentes da 21ª DP (Bonsucesso) prenderam o foragido da Justiça Fabiano Rebello Viana em Xerém, no município de Duque de Caxias.

Ainda hoje, a triste história de Fabrício e Renato permanece como um lembrete doloroso da busca por justiça em meio a um sistema que muitas vezes falha em responsabilizar os responsáveis por atos.

“Muita dor, mas a justiça pela morte de Fabrício e Renato foi feita. O último ato da vida dos nossos filhos nesse mundo. Depois de quase 17 anos, que a gente nem acreditava mais na Justiça, a justiça divina veio e ele, graças a Deus, foi capturado. Ele vai pagar pelo crime, duas vidas ceifadas, duas famílias que ele destruiu”, afirma Marizete, mãe de Fabrício.

“Tivemos que caminhar, tinha mais filhos. A dor é para sempre, a saudade não passa, mas estamos seguindo. O sentimento de que a justiça foi feita e nosso dever foi cumprido. Caminhamos nessa luta para poder fazer o julgamento, foram anos e anos. Hoje, graças a Deus, estou aliviada, me sinto aliviada”, define Gracilei, mãe de Renato.

Assassino de Fabrício e Renato é capturado pela polícia após 16 anos

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa