Baixada Fluminense

Jovem estudante de Mesquita denuncia ter recebido ofensas racistas de funcionário

O incidente ocorreu no Colégio Estadual Vila Bela. Segundo informações da Secretaria Estadual de Educação, o funcionário terceirizado foi temporariamente afastado do contato com a aluna até que todos os detalhes sejam devidamente investigados.

Uma estudante de 18 anos denunciou ter sido vítima de discriminação racial dentro da instituição onde estudou, localizada em Mesquita, na Baixada Fluminense. Julyene Vitória dos Santos alega que ofensas relacionadas ao seu cabelo foram feridas por um funcionário do Colégio Estadual Vila Bela.

Conforme o relato do estudante, o incidente ocorreu há aproximadamente dois meses. A jovem destaca que sempre teve orgulho de seu cabelo.

Em entrevista ao G1 a jovem emocionada contou: “Eu estava de trança azul, que é uma coisa que eu gosto de usar. Quando eu estava no bebedouro, esse funcionário chegou, encostou do meu lado, pegou nas minhas tranças e falou: ‘Queria ter cabelo duro para poder fazer essas coisas'”.

“Eu [fiquei] paralisada, sabia o que estava acontecendo, só que eu não queria acreditar”, completou Julyene.

A jovem afirma que uma colega que estava junto com ela questionou ao funcionário se ele estaria insinuando que a vítima teria “cabelo duro”.

“Ele [disse que] sim. ‘Vocês têm que entender que preto, todo preto, crioulo, tem cabelo duro'”, lembrou a estudante.

Julyene diz que foi difícil contar sobre o episódio para a mãe, mas que a responsável a encorajou a denunciar o caso para a direção da escola. Mãe e filha também estiveram estiveram na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos (Decradi), no Centro do Rio. A ocorrência foi registrada como preconceito de raça.

“Eu creio que esse colaborador tem que ser treinado para estar ali, porque se o jovem tem que ter educação, regras para lidar com o colaborador, ele também tem que ter essas regras e saber as leis para lidar com os jovens”, afirmou Ana Paula Rodrigues, mãe da vítima.

Para a educadora antirracista Célia Regina Cristo, casos como esse não podem ficar sem respostas.

“Na escola todo mundo educa, do porteiro ao diretor, do diretor a merendeira, os inspetores. Então, a gente não tem resposta em relação a isso porque as escolas públicas e privadas não estão trabalhando com educação antirracista. Estamos diante de um dilema que é etico, histórico”, destaca a especialista.

Indignada, a mãe da estudante falou sobre as marcas que o racismo tem deixado. “Nós, negros, vivemos com escudo. Aquele escudo vai saindo aos pedaços, sempre, e a gente tenta colar. Essa é nossa vida, esse é nosso cotidiano”.

Julyene relatou que sente medo de ir à escola. “Parece que tem uma tortura dentro de mim, uma ferida que toca todos os dias. É a sensação de medo de que aconteça de novo e de que eu não resista mais”

A Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) afirmou, em nota, “que pratica um ensino antirracista e está colaborando com todas as apurações”. A pasta informou que o funcionário, que é terceirizado, foi afastado do contato com a aluna até que todos os fatos sejam apurados.

A SEEDUC disse ainda que a “escola está dando todo o suporte necessário à aluna e sua família e que o caso foi incluído no banco de dados do registro de violência escolar”.

á a Polícia Civil disse que está investigando o caso e que vai ouvir testemunhas.

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa