Padre Henrique: sequestrado, torturado e morto pela ditadura

No dia 27 de maio de 1969, o Padre Antônio Henrique Pereira Neto era sequestrado, torturado e assassinado por agentes da ditadura militar membros do Comando de caça aos comunistas.

Nascido em Recife em uma família humilde, Antônio Henrique sendo o primogênito, estudava e trabalhava como Office Boy. Aos 16 anos entrou para o seminário e recebeu as ordens menores, por sua inteligência foi lhe dado uma bolsa de estudos  para cursar teologia no Mount Saint Bernard Seminary, em Iowa, nos Estados Unidos.

Estando no Brasil a três anos, em 1965 foi ordenado padre pelas mãos de Dom Helder Câmara, Arcebispo conhecido por sua luta pelos direitos humanos e contra a ditadura militar no Brasil.

A convite de Dom Helder assessorou a Pastoral da Juventude em diálogo com movimentos estudantis, e se colocou a fazer eventos e reuniões com jovens e os pais para conscientizar sobre a situação do país.

Pe. Henrique se tornou então figura central na luta por Direitos Humanos, denunciando suas violações na ditadura militar, sobretudo os assassinatos dos opositores da mesma.

Ficou conhecido como o padre que presidiu a missa em memória do jovem estudante Edson Luís de Lima Souto, assassinado por polícias militares, que gerou revolta e protestos pelo país, tendo seu auge na passeata dos cem mil, motivo pelo qual os militares usaram de pretexto para criar o AI-5, dando início aos anos de chumbo.

As denúncias feitas por padre Henrique e sua atuação junto dos estudantes e da Pastoral da Juventude o tornou alvo do Comando de caça aos comunistas, órgão de extrema-direita, que o chamavam de comunista. Eles preparam um atentado ao colégio Juvenato Vidal onde Pe. Henrique lecionava e o metralharam o local deixando o estudante Cândido Pinto de Melo paraplégico.

Diante dessa situação Pe. Henrique organizou um protesto que não teve conclusão, porque na noite do dia 26 de maio de 1969, ele foi sequestrado, e seu corpo foi encontrado com múltiplas marcas de tortura, incluindo cortes, mutilações, hematomas profundos, sinais de estrangulamento e três disparos de arma de fogo na cabeça. O rosto estava desfigurado e as mãos atadas.

O assassinato gerou revolta na população que fez3uma grande procissão com gritos contra a ditadura. Que fez um inquérito dizendo que Pe. Henrique foi vítima de crime comum.

Com a comissão da verdade, e recolhendo documentos secretos do extinto Serviço Nacional de Investigação (SNI) os assassino a foram identificados os investigadores da Polícia Civil de Pernambuco Rível Rocha e Humberto Serrano de Souza, o promotor José Bartolomeu Lemos Gibson e os estudantes Jerônimo Duarte Rodrigues Neto e Rogério Matos do Nascimento.

Dois dos citados ainda estão vivos, mas não foram criminalmente responsabilizados em função da Lei da Anistia.

Apontam ainda que o assassinato do Pe. Henrique foi um recado a Dom Helder Câmara.

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João Oscar

João Oscar é militante de direitos humanos da Baixada e jornalista comunitário.