Baixada Fluminense

Trinta e um anos da Reserva Biológica do Tinguá

Poucos moradores das seis cidades que a Reserva Biológica do Tinguá faz limite reconhece a tamanha importância que essa área tem para a humanidade. Abrangendo boa parte de seu território na Baixada Fluminense – a maior parte da REBIO Tinguá fica na cidade de Nova Iguaçu, mas também faz parte das cidades de Duque de Caxias, Petrópolis e Miguel Pereira e Engenheiro Paulo de Frontin -, a grande diversidade social e as dificuldades econômicas da população destes municípios de entorno, no decorrer dos anos, se transformaram em uma ameaça para essa parte tão preservada da Mata Atlântica.

Apesar de todos os desafios, graças ao tombamento como reserva biológica, a região do Tinguá ainda consegue manter alto grau de preservação de sua biodiversidade e mananciais, sendo até hoje fornecedora de água potável de altíssima pureza. Aliás, deve-se destacar que estas nascentes foram a motivação que o imperador D. Pedro II, em 1883, assumisse pelo governo brasileiro a proteção da região com a desapropriação das fazendas da Conceição, Tabuleiro e Provedor pelo Poder Público, que – junto com a doação feita por Francisco Pinto Duarte, o Barão de Tinguá -, configurando o que atualmente é um corredor ecológico entre as áreas protegidas da Mata Atlântica de região sudeste, perfazendo uma das áreas mais ricas em diversidade biológica da Mata Atlântica.

Outro ação governamental de proteção da região somente aconteceu na década de 1980, quando os movimentos sociais e ambientais da Baixada Fluminense, com apoio de universidades como a UFRRJ e a UFRJ, reivindicaram o reconhecimento estatal da área de Tinguá como área de preservação ambiental. O que se concretizou em 23 de maio de 1989, pelo Decreto Federal nº 97.780, categorizando como Reserva Biológica. Logo depois, no dia 15 de fevereiro de 1993, foi reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade e como Reserva da Biosfera pela UNESCO. Iniciativa que visava buscar a preservação das comunidades de espécies existentes na biosfera da Mata Atlântica e proteção da área para pesquisas científicas.

Recentemente visitei a região e vi de perto que prosseguem funcionando, em perfeitas condições, represas e aquedutos mais de 100 anos depois de sua construção. As 32 captações de águas continuam sendo distribuídas pelas chamadas “linhas pretas” para parte da cidade do Rio de Janeiro e Baixada. A REBIO continua abraçando estes mananciais assim como sua biodiversidade, mas também segue impactada pela ameaça de caçadores que matam animais silvestres, passarinheiros, palmiteiros, pedreiras clandestinas, ladrões de areia, carvoeiros e – para não dizer principalmente -, exploração do turismo predatório nos núcleos urbanos de entorno da Reserva Biológica do Tinguá, como Jaceruba, Rio D’ouro, Santo Antônio, Tinguá e Xerém.

No ano passado outra ameaça recaiu sobre a Reserva Biológica do Tinguá, a proposta de recategorização para Parque Nacional abrindo a área para a visitação. Tal movimento partiu de determinados segmentos da região da Baixada e estava alinhados a vontade de mudança de categoria por parte do Ministro do Meio Ambiente. Sem comprovação de melhoras para a proteção da área e desenvolvimento com sustentabilidade das comunidades do entorno, diante da pandemia, o assunto permanece adormecido.

Nestes trinta e um anos este patrimônio da Baixada sobrevive apesar de tudo. Da falta de reconhecimento, de valorização, de investimento e gestão enquanto política pública ambiental. Mas segue enquanto um dos maiores tesouros da Baixada Fluminense.

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Emanoelle Cavalcanti

Acadêmica de psicologia, voluntária na Ong Médicos do Mundo

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