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Desafios das barricadas do crime: O cerco à liberdade nas comunidades no Rio de Janeiro

Nos bairros e comunidadades do Rio de Janeiro as barricadas emergem como representações vivas do controle territorial imposto por grupos criminosos. Traficantes e milicianos erguem essas estruturas com o claro propósito de bloquear o acesso da polícia e impedir a entrada de facções rivais em seus territórios, transformando as áreas afetadas em verdadeiros guetos onde os residentes vivem sob constante ameaça, privados do acesso adequado a serviços essenciais.

A sofisticação e diversidade das táticas empregadas por esses grupos são notáveis. Desde o uso de entulhos e pneus até a colocação de barreiras com jacarés e trilhos de ferrovias, os criminosos demonstram uma criatividade assustadora na concepção dessas obstruções. Além disso, relatos policiais indicam a presença de artefatos explosivos nas barricadas, e frequentemente, por trás delas, encontram-se criminosos armados com pontos de observação e plataformas de tiro, tornando qualquer tentativa de remoção uma tarefa perigosa.

A prática se tornou tão comum que foi criada a figura dos chamados “gerentes de barricadas”, responsáveis pela organização logística e monitoramento desses pontos de bloqueio, contribuindo para a construção de barricadas mais complexas e avançadas, ampliando ainda mais o domínio dos grupos criminosos e causando terror nas comunidades locais.

Estudos revelam a gravidade desse problema no estado do Rio de Janeiro desde 2016. Embora os números tenham diminuído no início da pandemia de Covid-19 em 2020, eles rapidamente se recuperaram, atingindo os níveis de 2019. Apenas em 2022, mais de 10,4 mil denúncias foram registradas, refletindo um aumento contínuo nos últimos anos. Em áreas como São Gonçalo, onde essas estruturas são particularmente comuns, o que acabou provocando um êxodo populacional significativo, exacerbando ainda mais a situação.

Na Baixada Fluminense, a questão das barricadas segue um padrão similar. Locais que nunca foram controlados de maneira efetiva pelo tráfico ou por milicianos agora estão sendo demarcados por barricadas improvisadas, colocadas explicitamente por grupos criminosos. Além destes, existe a sofisticação da colocação de portões e grades cercando os bairros sob o argumento de aumento de segurança, mas, entretanto, demarca o controle territorial de algum grupo criminoso. Nestes casos, a maioria são milicianos que passam a cobrar taxas de proteção dos moradores, e a prática é cada vez mais explícita, pois áreas que anteriormente eram controladas e ficavam em bairros mais distantes agora avançam suas barricadas, chegando até mesmo às vias principais e ficando visíveis à passagem das autoridades. Um exemplo recente foi a remoção de uma tonelada de barricadas do tráfico de drogas no Parque São José, em Belford Roxo, onde 500 kg dessas obstruções foram retirados das ruas pela polícia.

Para enfrentar esse desafio, a Polícia do Rio investiu na aquisição de “kits demolição”, equipados com retroescavadeira, veículo-prancha e caminhão basculante. No entanto, a questão vai além da simples remoção das barricadas, representando uma violação direta do direito fundamental de ir e vir dos cidadãos, além de dificultar o acesso a serviços básicos, como saúde e educação.

No ano passado, o deputado federal Dimas Gadelha, que é de São Gonçalo, propôs a criação de uma Frente Parlamentar no Congresso Nacional para discutir políticas públicas eficazes de combate às barricadas. Essa iniciativa destaca a necessidade de uma abordagem coordenada e abrangente para lidar com esse problema complexo. No mês passado, integrantes da ComCausa estiveram no gabinete do deputado em Brasília para abordar o tema e foram informados que a proposta ainda não avançou no Congresso.

Nos últimos anos, o Disque Denúncia tem se destacado como o principal meio de comunicação para localizar barricadas relacionadas ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Este serviço tem desempenhado um papel crucial na identificação dessas obstruções, facilitando a ação policial e contribuindo para a segurança das comunidades. Com uma central de atendimento disponível através do número 21.2253 1177, um serviço de WhatsApp no 21.99973 1177 e um aplicativo dedicado, o público pode fornecer informações importantes sem expor sua identidade. O anonimato é uma garantia oferecida pelo Disque Denúncia, permitindo que os denunciantes contribuam para a segurança pública sem correrem o risco de retaliação por parte dos criminosos.

Em última análise, a luta contra as barricadas do crime no Rio de Janeiro é uma batalha pela liberdade e segurança dos cidadãos, exigindo não apenas ações enérgicas das autoridades policiais, mas também o apoio e engajamento contínuo da sociedade civil e do poder legislativo para implementar soluções eficazes e duradouras. Enquanto isso, os moradores das comunidades sitiadas continuam enfrentando um cotidiano marcado pelo medo, pela incerteza e pela violência, aguardando uma mudança que lhes devolva a esperança de dias melhores.

Dimas Gadelha propõe Frente Parlamentar de combate a barricadas

– Imagem ilustrativa.

Editoria Virtuo Comunicação

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa