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Memória: Dionísio Júlio Ribeiro Filho

O ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, conhecido como Seu Júlio, foi assassinado na noite de 22 de fevereiro de 2005, alvejado pelas costas, com um tiro de espingarda calibre 28 na cabeça.

A morte do Seu Júlio já era prevista, ele teve várias ameaças e para se preservar de atentados, evitava andar à noite pelas ruas do Tinguá. O caminho até a sua casa era ermo, por isso, segundo seus amigos, ”Seu Júlio” preferia a luz do dia.

Sargento reformado da Polícia Militar, o ambientalista – que participou da criação da reserva em 1989 – era considerado pelos ambientalistas locais uma pessoa destemida, apesar das ameaças de morte.

Seu Júlio, na época com 59 anos, foi assassinado por volta das 22h30 de terça-feira, 22 de fevereiro de 2005, a cerca de 200 metros de uma das entradas da Rebio Tinguá, e a poucos metros de sua casa. Ele havia acabado de participar de uma reunião na sede da Associação de Moradores de Tinguá e voltava para casa quando foi vítima de uma tocaia.

Um dos acusados, Leonardo Marques, quando foi preso afirmou que cometera o crime porque estava enfurecido com o ambientalista que, segundo ele, dias antes havia indicado sua casa para policiais que apreenderam suas armas. Após sua prisão, a polícia admitiu que o assassinato de Seu Júlio poderia ter sido tramado por pessoas ou grupos que se sentiam prejudicados pela sua militância em defesa da reserva que, além da caça ilegal, sofre com a ação dos palmiteiros, com o desmatamento e com a extração ilegal de areia.

Conselheiro fiscal do Grupo de Defesa da Natureza (GDN), o ambientalista também já foi funcionário do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Na ONG, ele trabalhava como voluntário. Há pelo menos 10 anos, segundo amigos, ”Seu Júlio” começou a receber ameaças. Nessa época, sua família se mudou para Guadalupe. Algum tempo depois, a mãe do ambientalista foi morar em Tinguá, onde viveu com filho até a sua morte, recentemente. Dionísio costumava receber a visita da filha de 19 anos.

Envolvido com projetos sociais, o ambientalista estava ajudando a Cruz Vermelha a levar informações sobre doenças à comunidade de Tinguá. Pelos vizinhos, Dionísio era considerado discreto. Era maratonista, não bebia nem fumava.

Segundo o agente florestal Márcio Castro das Mercês, o medo de morrer está presente entre todos os ambientalistas: “Se por um lado a riqueza da reserva é infinita, por outro os arredores são muito pobres, o que acaba gerando palmiteiros e caçadores” – diz Márcio.

Assassino confesso do ambientalista Seu Júlio foi absolvido

Preso dois dias após o crime, Marques passou mais de um ano na cadeia à espera do julgamento. Mesmo tendo confessado ser o autor do tiro de espingarda que matou Seu Júlio, o caçador foi absolvido por júri popular, pelo placar de 6 a 1, no dia 20 de junho de 2006. A decisão, segundo o júri, baseou-se na insuficiência de provas, apesar de a arma do crime ter sido encontrada na casa de Marques. Além disso, a defesa sustentou que o réu havia assinado sua confissão sob tortura, argumento que parece ter sensibilizado os jurados. O veredicto, no entanto, é considerado suspeito pelas organizações socioambientalistas que acompanham o caso. Todos lembram do ano passado quando, ao ter uma crise nervosa no momento em que foi autuado e soube que permaneceria longo tempo na cadeia, Marques chegou a afirmar, na frente de várias testemunhas, que haviam “garantido” a ele “que não ficaria tanto tempo preso”.

Rebio Tinguá

A reserva do Tinguá tem 26 mil hectares. A área de entorno é de 500 mil quilômetros quadrados. Segundo ambientalistas, menos de 10% da flora foi mapeada. A reserva do Tinguá fornece água para 4 milhões de pessoas na Zona Norte e na Baixada.

Criada em 1989 e espalhada por quase 28 mil hectares que alcançam os municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Japeri, Petrópolis, Miguel Pereira e Paty do Alferes, a Reserva Biológica do Tinguá é considerada um paraíso ecológico e foi reconhecida na década passada como patrimônio da humanidade pela Unesco. Além de possuir recursos hídricos que são responsáveis por 80% do abastecimento de água da Baixada Fluminense, a reserva abriga fauna e flora riquíssimas. Em suas matas, situadas a pouco mais de 50 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, são encontrados desde mamíferos de grande porte como a onça-parda e o macaco-prego até animais como o sapo-pulga, considerado o menor anfíbio do planeta.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa