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Nascimento Che Guevara

Ernesto Guevara de La Serna nasceu em Rosário, Argentina, no dia 14 de junho de 1928. Médico, guerrilheiro e estrategista militar, Che Guevara é um dos maiores ícones da esquerda do século XX. Filho de Ernesto Guevara y Lynch, renomado professor de Direito, congressista e embaixador, e de Celia de La Serna y Llosa, de família aristocrática. Desde criança, sofria com asma, motivo pelo qual foi dispensado do serviço militar.

Em 1944, Che Guevara passou a trabalhar como funcionário da Câmara de um vilarejo próximo. Em 1946, a família se mudou para Buenos Aires e em 1947, ingressou no curso de medicina da Universidade de Buenos Aires. Aprofundou o contato com teorias socialistas durante a graduação, lendo obras de Marx, Engels e Lenin. Intercalou as atividades acadêmicas com viagens que impactaram profundamente sua visão de mundo.

Em 1951, fez uma longa viagem de motocicleta ao lado do amigo Alberto Granado, percorrendo 8 mil km por toda a América do Sul. Durante a viagem, prestou atendimento médico gratuito às populações desassistidas e serviu como voluntário em um leprosário na Amazônia.

O contato com a pobreza e a desigualdade social contribuíram para a radicalização do pensamento político. As anotações feitas durante a viagem serviriam de base para redigir o livro “Diários de Motocicleta”. Retornou para Buenos Aires em 1953 e concluiu o curso de medicina.

Em 1954, após uma nova viagem continental ao lado de Carlos Ferrer, partiu para a Guatemala, a fim de acompanhar o ambicioso projeto de reforma agrária instituído pelo presidente Jacobo Arbenz Guzmán, que já havia desapropriado mais de 225 mil acres da United Fruit Company.

Em junho de 1954, Jacobo Arbenz foi deposto por um golpe de Estado orquestrado pela CIA, visando proteger os interesses das corporações estadunidenses. Perseguido pelas milícias do novo governo, buscou refúgio no consulado argentino, partindo em seguida para o México.

Na capital mexicana, Che Guevara conheceu Raúl e Fidel Castro, líderes do M-26-7 — movimento que articulava uma guerrilha para derrubar o ditador cubano Fulgencio Batista. Decidiu tomar parte do movimento, iniciando o treinamento militar e o estudo de táticas de guerrilha.

Em novembro de 1956, Che Guevara embarcou para Cuba a bordo do Granma. Ao desembarcarem, os guerrilheiros foram atacados, mas um grupo conseguiu se refugiar na Serra Maestra. Os rebeldes ganharam apoio dos camponeses e iniciaram a formação de um Exército Revolucionário.

Che Guevara seria um dos 4 comandantes das forças revolucionárias, bem como o principal responsável por conduzir a estratégia de cooptação do apoio popular, fundando clínicas médicas e escolas para alfabetizar os camponeses e instalações militares de apoio à guerrilha.

Che Guevara comandou campanhas militares de grande importância para a neutralização das forças de Batista. Durante a Batalha de Las Mercedes, liderou um destacamento de 1.500 homens, impedindo que o exército cubano aniquilasse a unidade guerrilheira comandada por Fidel.

Che Guevara obteve uma série de vitórias que lhe garantiram o controle total da província de Las Villas, culminando com tomada de Santa Clara. Em 1/1/1959, Batista capitulou e fugiu do país. Os guerrilheiros adentraram em Havana sob aplausos da população.

Após o triunfo da revolução, Che Guevara assumiu o posto de comandante da prisão de La Cabaña, atuando como revisor de apelos dos soldados acusados de crimes de guerra. A pedido de Fidel, embarcou em uma excursão diplomática de 3 meses a 14 países da África e da Ásia.

Após retornar a Cuba, coordenou a reforma agrária, desapropriando grandes latifúndios e redistribuindo a terras entre camponeses. Também liderou a Campanha Nacional de Alfabetização, um dos mais bem sucedidos esforços de erradicação do analfabetismo da história.

A taxa de analfabetismo de Cuba despencou de 38% para 3,9% em 8 meses. Em 1961, Cuba foi declarada “Território Livre do Analfabetismo”. Nesse mesmo ano, Che Guevara visitou o Brasil, sendo condecorado por Jânio Quadros com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

Che Guevara exerceu ainda os cargos de ministro da Fazenda e da Indústria e presidente do Banco Nacional. Efetuou a nacionalização de bancos e indústrias, universalizou o direito ao emprego e alocou recursos para a ampliação dos serviços de saúde, educação e habitação.

Também criou as Jornadas de Trabalho Voluntário — frentes de trabalho que visavam impulsionar a economia da ilha e educar politicamente a população. O programa obrigava burocratas do governo a comparecerem às frentes para executar trabalhos manuais ao lado dos operários.

Visando atenuar o efeito das sanções econômicas impostas pelos EUA, Che Guevara buscou fortalecer os vínculos com as nações socialistas. Também treinou as tropas que derrotaram as milícias de exilados cubanos financiados pelos EUA durante a Invasão da Baía dos Porcos.

Che Guevara conduziu os acordos com a URSS que viabilizaram o transporte de mísseis balísticos para a ilha, dando início à Crise dos Mísseis. Em 1964, chefiou a delegação cubana na ONU, proferindo um famoso discurso condenando o imperialismo, o racismo e o apartheid.

Seu posicionamento favorável à China durante a Ruptura Sino-Soviética causou desentendimentos com Fidel. Em 1965, Che Guevara embarcou para a África, servindo como emissário do governo cubano no auxílio aos movimentos revolucionários e anticoloniais do continente.

Atuou na guerrilha do Congo, integrando a Rebelião Simba — movimento que lutava contra as tropas de Mobutu Sese Seko e mercenários pró-apartheid financiados por EUA e África do Sul. Suas estratégias, entretanto, foram neutralizadas por operações conduzidas pela CIA.

Demovido por seus próprios soldados, retirou-se do conflito. Em novembro de 1966, Che Guevara viajou para a Bolívia, a fim de combater a ditadura de René Barrientos Ortuño. Instalou um acampamento militar no sudeste do país e iniciou a formação de um exército guerrilheiro.

A despeito de algumas vitórias em escaramuças, o movimento não conseguiu atrair apoio do campesinato nem articular a união das lideranças locais. Também não recebeu o apoio esperado do Partido Comunista da Bolívia.

Che Guevara não sabia que os militares bolivianos estavam recebendo cooperação técnica dos EUA. Washington havia despachado uma equipe da Divisão de Atividades Especiais da CIA e batalhões de elite das Forças Especiais do Exército para auxiliar em sua captura.

Che Guevara foi capturado pelas Forças Especiais da Bolívia em La Higuera, no departamento de Santa Cruz. Foi executado em 9 de outubro de 1967. Sua morte foi confirmada pelo governo cubano no dia 15 de outubro, causando enorme comoção.

Seus restos mortais foram trasladados para Cuba em 1997 e sepultados em um mausoléu em Santa Clara. Malgrado o esforço da mídia em vilanizá-lo, Che Guevara permanece como um ícone das lutas contra a opressão, o imperialismo e a injustiça social.

Mandela o definiu como “uma inspiração para todo ser humano que ama a liberdade”, enquanto Sartre o descreveu como “o mais completo dos seres humanos de nossa época”. Frantz Fanon o chamou de “o símbolo mundial das possibilidades de um homem”.

Inspirada por suas ações e formulada por Régis Debray, a Teoria do Foco Insurrecional (ou Foquismo) teve grande influência nos movimentos guerrilheiros latino-americanos entre as décadas de 60 e 70.

Além da capacidade de ação material, Che Guevara se destacou como intelectual, tendo exposto suas ideias em diversas obras (“A Guerra de Guerrilhas”, “O Socialismo e o Homem em Cuba”, etc.). Foi poeta e frasista excepcional, tendo cunhado diversas expressões célebres.

Há uma bem conhecida que sintetiza plenamente seu aguerrido espírito revolucionário: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.

Filmes sobre a vida Che Guevara

  • Diários de Motocicleta (2004), com direção de Walter Salles, baseado no diário escrito por Che durante a aventura realizada com Alberto Granado por países da América Latina.
  • Che (2008), de Steven Sodebergh, conta a biografia de Guevara em duas partes. Che: o Argentino e Che: Guerrilha.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa