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O cuidado de se levar arte às escolas

Deve haver critérios e controle na seleção de trabalhos artísticos.

Fiquei chocado com a apresentação de dança numa escola municipal no Rio. Ao assistir o vídeo em que crianças pequenas foram submetidas a uma cena com conteúdo totalmente inadequado, fiquei profundamente chocado, não consegui assistir até o final.

Há mais de 18 anos a Cia Teatral Ensino em Cena visita escolas no Rio de Janeiro e em diversos estados brasileiros, atingindo a marca de mais de 2 mil apresentações. Nunca houve um problema sequer. E olha que a gente fala sobre drogas, gravidez na adolescência, bullying, violência, consumismo, e até suicídio, peça recentemente contratada pelo projeto Atitude Positiva Sesi Firjan.

Os profissionais da educação que conhecemos sabem do rigor do nosso trabalho, da nossa responsabilidade ao abordar algum tema polêmico. Nós sabemos nos comunicar com as crianças e com os adolescentes. São numerosos depoimentos que comprovam nossa atuação que é pautada pela ética, responsabilidade, bom gosto, respeito, inteligência.

Sou o autor de diversos textos teatrais que os atores representam sob minha supervisão e de Filippe Neri, também ator e produtor.

Me questionei como foi possível aprovar tal apresentação na escola? Fiquei sabendo do fato através de um vídeo indignado gravado pelo prefeito Eduardo Paes. Não há desculpas para o que ocorreu, é uma vergonha, um horror, e preconceito contra as crianças e quem trabalha sério com a cultura nas escolas como é o caso da Cia Teatral EnsinoemCena .

Aliás, quero aqui manifestar minha preocupação com o que vem acontecendo há algum tempo. Há aventureiros de plantão oferecendo nas escolas muita porcaria. Desculpem o tema, mas não há outro. É uma gente despreparada que só está interessada na possibilidade de ganhos, se aumentando por produções culturais.

Há também muita responsabilidade por parte de alguns profissionais da educação em permitir que certos grupos sejam apresentados nas escolas. É preciso saber quem são esses grupos, conhecer seu trabalho, verificar o conteúdo. É preciso controle e critérios na seleção de grupos de teatro, dança, música que visitam escolas públicas ou privadas.

A Cia EnsinoemCena está há mais de 18 anos trabalhando para este público, formando plateia, debatendo temas importantes para a infância e a juventude.

A confiança que temos em nós é tanta que é comum recebermos pedidos para criar textos e apresentações sobre determinado tema, como recentemente nos propuseram abordar os perigos do uso de cigarros eletrônicos que estão devastando os jovens em sua saúde, colocando vidas em risco.

Para ter ideia de como ganhar, nossa recente peça chamada “Você não está sozinho” que trata da prevenção do suicídio na adolescência foi testada por psicólogos, pais e profissionais da educação numa apresentação no Colégio Franco Brasileiro, em Laranjeiras, antes da pandemia.

Após esta etapa, nós nos apresentamos para uma plateia de jovens de escolas municipais no teatro Calouste, no Centro do Rio, acompanhados por profissionais do Sesi Firjan para ver a ocorrência dos jovens, e somente então fomos contratados.

Fazer teatro para adulto é uma coisa, mas para crianças e adolescentes nas escolas debatendo temas complicados é bem diferente. Requer muita responsabilidade, pesquisa, cuidado com o idioma, evitar mensagens dúbias, preconceitos, modismos, propagar referências midiáticas e das redes, etc. É uma tarefa bem difícil, requer muita experiência.

O que aconteceu esta semana na escola municipal do Rio não pode mais se repetir. O prefeito Paes anunciou que haverá um controle rígido para apresentações nas escolas, estamos de acordo, é hora de acabar com a bagunça.

Mas o que também não pode ocorrer é excluir totalmente as crianças das manifestações artísticas, com trabalhos de qualidade de bons grupos por causa de uma gente despreparada que acha que arte é um “pode tudo”, terra de ninguém.

O bom teatro é uma das melhores ferramentas para despertar a consciência, debater problemas, buscar alternativas, incentivar a criatividade.

Nossa solidariedade às crianças e aos pais que vivenciaram situação tão perturbadora, tão triste.

Viva a arte, viva a educação de qualidade!

Francis Ivanovich é o criador, autor e diretor da Cia Teatral EnsinoemCena, Jornalista , cineasta, diretor do Festival de Cinema Flávio Migliaccio, Concurso de Dramaturgia Flávio Migliaccio, e Frankfurt Prod.

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