Rio de Janeiro

Desaparecimentos acontecem em maior número na Baixada e na Zona Oeste

A Comissão Especial de Pessoas Desaparecidas, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), reuniu nesta quarta-feira (11/05) mães que seguem em busca do paradeiro de seus filhos. De acordo com o presidente da comissão, ouvir as mães é de grande importância para pensar em políticas públicas sobre o tema. O parlamentar também destacou como regiões mais preocupantes a Baixada Fluminense e a Zona Oeste da capital fluminense.

“O número de desaparecidos aumenta a cada ano, o que é preocupante. A maior parte dos desaparecimentos acontece na Baixada Fluminense e na Zona Oeste. Precisamos de providências urgentes para diminuir estes indicadores. É muito importante a fala de todos os familiares, para desenvolvermos projetos e apresentar políticas públicas que melhorem essa situação”.

Mãe de Priscila Belfort, desaparecida em janeiro de 2004 no Centro da cidade do Rio, e hoje superintendente da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Jovita Belfort destacou que a atuação do poder público tem melhorado, e chamou a atenção para a necessidade de viabilizar uma licença que permita que familiares de desaparecidos não compareçam ao trabalho e se empenhem na busca.

“É uma causa que até pouco tempo atrás era invisível, e temos avançado nas políticas públicas. A causa chegou em um limite que os números falam por si. É importante falar dos adultos, pois a dor é a mesma. Quando um familiar desaparece, os primeiros dias são enlouquecedores. Assim como há a licença por morte, deve haver para o desaparecimento. O familiar de falecido tem amparo da lei e o de desaparecido, não. E ele tem que ir ao IML, à delegacia, é um verdadeiro transtorno”, ressaltou Priscila.

Luciene Torres, mãe de Luciana Torres, desaparecida em 2009, falou sobre o descaso do poder público com o desaparecimento de adultos: “Precisamos falar do desaparecimento na fase adulta. Muitos falam que adulto quando desaparece não quer ser encontrado, mas não é assim. Minha filha sumiu com 9 anos e agora fará 22. Para uma mãe, de 0 a 100 anos é nosso filho, nosso bebê, queremos de volta. O descaso na busca imediata não é culpa do policial, existe uma cultura da espera de 24 ou 72 horas. Empatia é uma palavra muito bonita de se falar, mas na prática não vivemos isso. A mídia ainda é nossa melhor arma”.

Luciana Ferreira, mãe de Eduardo Lima, desaparecido em abril de 2020 em Belford Roxo, relatou as dificuldades na busca dos dependentes químicos. “Meu filho é dependente químico, teve muitas internações, quase não teve vida fora do crime. Na pandemia não consegui interna-lo, e ele sumiu. Ele nunca havia passado mais de 12 horas longe de casa. Se nem com os menores o poder público dá muita importância, imagine um adulto e dependente químico? Hoje ando com meu marido levando cartazes nas cracolândias”.

Maria José da Silva, mãe de Maikon Lima da Silva, desaparecido em fevereiro de 2010 em Saracuruna, também contou que recebeu pouca atenção ao reportar o desaparecimento do filho. “Meu filho era gari e desapareceu no bairro onde mora. Foi trabalhar e não voltou em casa, tinha 23 anos. Era carnaval, e na delegacia disseram que estava curtindo o carnaval, mas eu conheço os hábitos do meu filho, ele viria em casa se arrumar para depois sair. Meu marido também foi à delegacia e os policiais falaram que não poderiam fazer nada, pois não havia completado 72 horas. Esse tempo é valioso, principalmente se a pessoa tem uma rotina”, relatou.

Ela também denunciou que foi feito um saque de auxílio emergencial em nome de Maikon, e cobrou que autoridades investiguem o fato. “Alguém sacou dinheiro do auxílio emergencial dele, é um absurdo. Quero resposta dos governantes. Se foi o meu filho que pegou esse dinheiro, onde estão as imagens das câmeras?”, questionou.

Já Odete Correia contou que seu filho, Rodrigo Correia, desapareceu em janeiro de 2019, e teve seu carro encontrado perto da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. Ela pediu apoio e empatia do poder público: “Quantas mães não buscam mais pois não têm dinheiro para pagar uma passagem? Abracem esta causa, antes que essa dor abrace vocês”.

– Fonte: Alerj

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa