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Memória: TT Catalão

O jornalista, letrista, músico, ativista cultural, poeta e iguaçuano Vanderlei dos Santos Catalão, conhecido como TT Catalão, nos deixou aos 71 anos na madrugada de quinta-feira, dia 02 de janeiro de 2020.

Natural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, viemos a conhecer pessoalmente TT quando deixamos um convite para a inauguração da sede da ComCausa no Ministério da Cultura no final de 2009. Ao buscá-lo no aeroporto do Rio, em meio a um engarrafamento na Linha Vermelha, começou a nossa breve, mas relevante relação com ele.

Durante uma conversa informal, em suas falas no encontro na sede da ComCausa e em entrevista na Rádio BFluminense FM, uma admiração e amizade foram se desenvolvendo. Mesmo com a distância e encontros pontuais em Brasília, no Ceará e na Teia Baixada em 2010, além de alguns cafés quando vinha visitar sua mãe em Nova Iguaçu, nossa admiração por ele se consolidou.

Segundo TT, ele escrevia para a revista O Cruzeiro quando recebeu o convite para se tornar um dos instrumentistas da banda de rock Portal em Brasília, em 1972. Decidiu se radicar na Capital Federal, não apenas pela oportunidade na música, mas também devido à repressão policial e política na Baixada Fluminense durante a época da Ditadura.

Já morando em Brasília, TT Catalão trabalhou na redação do Correio Braziliense em 1976 e se envolveu diariamente no meio cultural da cidade. Dividia sua vida entre o jornalismo e a arte, buscando sua identidade. De acordo com o que já foi publicado sobre ele, o ambiente da Capital naquela época serviu de inspiração ao poeta, que logo se tornou referência em Brasília.

Atuando na linha de frente da cultura, em 1978, coeditou e organizou suplementos e performances na Mostra do Horror Nacional, com José Mojica, Fernando Lemos, Ivan Cardoso, Elyseu Visconti e Júlio Bressane, em reação à censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Entre outras atividades na cultura, participou do clássico filme “Idade da Terra” de 1980.

Em 1985, entrou para o Governo do Distrito Federal, onde atuou como chefe de gabinete da Secretaria de Educação e Cultura. Foi chefe de gabinete da Fundação Cultural de Brasília na primeira gestão pós-ditadura de Pompeu de Souza e Luis Humberto.

Junto ao poder público, criou a política de bolsas de estudos culturais em 1987, além de articular o Conselho de Cultura do Distrito Federal, tornando-se o primeiro presidente eleito em 1989.

Em 1993, criou e geriu o Espaço Cultural Renato Russo pela Secretaria de Cultura. Produzia atividades do local até a meia-noite e permaneceu à frente do espaço até 1997.

Foi editor de Pesquisa e Informação do Correio entre 1997 e 2003. Nessa época, trabalhou como consultor de conteúdo para o programa “Cultura Ponto a Ponto”, abordando a cultura popular brasileira. A exibição era realizada pela TVE-Rio e pela TV Cultura de São Paulo, e depois foi acrescido ao laboratório “Cultura Viva de Cinema e Vídeo com os Pontos” na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entre 2007 e 2008, tornou-se o subsecretário de Políticas Culturais de Brasília e teve papel fundamental na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do Distrito Federal, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura).

Durante o governo Lula, tornou-se uma figura de destaque no extinto Ministério da Cultura (MinC), atuando junto com Gilberto Gil, Juca Ferreira e Célio Turino. Ele foi um dos mentores da construção coletiva do Programa “Cultura Viva”, que democratizou a cultura através de iniciativas como os Pontos de Cultura.

Entrevista TT Catalão

Em 2010, assumiu a Secretaria Nacional de Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando a implantação do Programa Cultura Viva como uma polícia de Estado, em 2014.

Logo no início de 2020, TT Catalão falece em um hospital particular de Brasília. Deixa a mulher, dois filhos, uma filha e duas netas. Foi velado Espaço Cultural da 508 Sul e no cemitério Campo da Esperança.

Apesar dos poucos encontros que tivemos, TT Catalão desempenhou um papel significativo ao inspirar-nos a refletir sobre a abordagem à cultura como elemento de transformação, não apenas na Baixada Fluminense, mas em todos os lugares e situações. Ele foi essencial na promoção da valorização do próximo enquanto um agentes de cultura, independente de seu oigem, incentivando sempre umolhar para o outro com respeito e carinho. Embora sua ausência seja sentida, TT cumpriu sua missão.

 

“Brasilia perde um pedaço de sua inspiração poética, de nossa criatividade no uso do idioma e de nosso estoque em simpatia tolerante” – Cristovam Buarque, Ex-senador e Ex-governador do Distrito Federal.

“TT Catalão chamava a atenção por sua sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem admirava muito” – Rodrigo Rollemberg, Ex-governador do Distrito Federal.

– Fontes: ComCausa, O Globo, Correio Braziliense e Revista Fórum.

– Atualizada 03 de janeiro de 2022

– Atualizada 30 de novembro de 2021

TT Catalão na inalguração sede da ComCausa em 2009:

 

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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